quarta-feira, 19 de maio de 2010

domingo, 16 de maio de 2010

Vibrações

Vibrar é doar... Doar amor, paz, união, doar o que temos de melhor ao próximo! Como podemos vibrar!? É simples. É só fecharmos os olhos, relaxarmos e, numa oração sem palavras, mentalizarmos uma pessoa querida, um lugar, um familiar, enfim, imaginarmos para quem ou para o que vibraremos, e então mentalizar ondas de paz, de amor, de harmonia para aquela pessoa a qual estamos vibrando; mentalize Cristo, nosso mestre! Vibre pelo seu lar, pelo seu trabalho, pelas pessoas que ama e pelas que te odeiam... Vibrar é doar, é caridade, e fazer o que Cristo nos ensinou!

Psicografia, Controle Universal e Doutrinação dos Espíritos

Autor: José Queid Tufaile Huaixan

A Psicografia

Definição e origem - A psicografia é a técnica utilizada pelos médiuns para escreverem um texto sob a influência de um Espírito desencarnado. Todos nós sabemos que no tempo em que Allan Kardec teve contato com as manifestações espíritas, o meio utilizado para a comunicação entre os dois planos eram as mesas girantes. Esse mecanismo constituía-se de uma pequena mesa de três pés, sobre a qual se colocavam as pontas dos dedos de duas ou mais pessoas. Sob o efeito de um agente até então desconhecido, influenciado pela ação energética dos manipuladores, a mesa saltitava dando pancadas no assoalho. Por meio dessas batidas convencionou-se um alfabeto e foi possível obter as primeiras mensagens entre o mundo invisível e o visível.

Algum tempo depois, a imaginação dos adeptos dessa metodologia criou outros mecanismos que facilitavam a comunicação dos Espíritos através dos médiuns. Dentre eles se destacavam a cesta-pião, a mesa miniatura, as pranchetas e a cesta de bico.

A escrita obtida por esses instrumentos primários foi chamada mais tarde de “psicografia indireta”. Após a fase primitiva, alguns experimentadores tiveram a idéia de substituir as cestinhas pela mão do próprio médium, o que deu origem à “psicografia direta” ou “psicografia manual”, utilizada até os dias de hoje.

O valor da Psicografia - De todas as formas de comunicações mediúnicas, a psicografia é a mais precisa, cômoda e completa. Allan Kardec afirma em O Livro dos Médiuns, que todos os esforços devem ser feitos no sentido de desenvolvê-la nos centros espíritas. Além disso, trata-se da mediunidade mais fácil de ser desenvolvida, pois que seu mecanismo de sintonia é facilitado pelo automatismo proveniente do processo de escrita.

Quando uma pessoa está escrevendo, a mente consciente busca as idéias no inconsciente, para ordená-las no fluxo criativo. Como a influência espiritual se dá na camada inconsciente, isso facilita a sintonia com o Espírito comunicante. Quando se trata de dar vida lógica e racional a um texto, é muito mais confortável escrever do que falar. Por este motivo, os homens de destaque em nosso mundo preferem fazer seus discursos públicos por escrito.

A mensagem escrita tem maior valor do que a falada, pois ela pode ter seu conteúdo examinado de modo mais abrangente. Por ela é possível sondar a intimidade dos pensamentos da entidade que se comunica, dando a eles um justo valor pelo conteúdo que encerram.

Os médiuns psicógrafos podem ser “Mecânicos”, os “Intuitivos”, os “Semi-mecânicos” e os “Inspirados”.

Os médiuns mecânicos se caracterizam pelo fato de movimentar as mãos escrevendo sob a influência direta dos Espíritos, sem interferência da própria vontade. Agem como máquinas a transmitir do invisível para o mundo material. São raros. No Brasil, destaca-se o trabalho de Francisco Cândido Xavier, em Uberaba, MG.

Os médiuns intuitivos recebem as mensagens dos Espíritos desencarnados por meio da sintonia psíquica direta entre sua mente e a do comunicante. Eles precisam compreender o pensamento sugerido, assimilá-lo, para depois transmiti-lo revestido com suas próprias idéias. São muito comuns.

Os médiuns semi-mecânicos são aqueles que sentem a mão ser movimentada, mas ao mesmo tempo têm consciência do que escrevem.

No primeiro caso, o pensamento vêm após a escrita; no segundo, antes da escrita, e no terceiro, junto com ela.

Os médiuns semi-mecânicos são os mais numerosos.

A última variedade de médiuns é a dos inspirados. O Livro dos Médiuns nos informa que esse tipo de médium é uma variação dos médiuns intuitivos, com a diferença de que nos inspirados é muito mais difícil distinguirmos o pensamento do Espírito, daquele que é do médium.

A mediunidade inspirada é proveniente da mediunidade generalizada ou natural, que todas as pessoas possuem em maior ou menor grau.

Quem pode ser médium psicógrafo? - Não há nenhum meio de diagnosticarmos a faculdade mediúnica a não ser o experimento. Algumas pessoas confundem certos movimentos involuntários de braços e mãos, provocados por Espíritos obsessores, como sendo indícios de mediunidade psicográfica, o que têm levado algumas delas a sofrer graves decepções, escrevendo obras apócrifas.

A melhor maneira de sabermos se uma pessoa tem ou não capacidade para escrever sob a influência ostensiva dos Espíritos é submetê-la à experiência.

Antes, porém, de iniciarmos alguém no exercício da psicografia ou de qualquer outra mediunidade, convém que ele seja colocado no curso básico de iniciação espírita. É importante que o candidato a médium já tenha noções fundamentais acerca do que é o Espiritismo.

No Brasil, nos acostumamos em demasia à mediunidade de psicofonia. Talvez o motivo disso esteja ligado ao natural comodismo que cerca as atividades mediúnicas. Entre nós não existe o salutar e necessário hábito de avaliar as comunicações, conforme instruía Kardec. Os Espíritos manifestam-se e quase sempre não portam qualquer mensagem de significativo conteúdo filosófico ou doutrinário.

Comunicam-se, às vezes, simplesmente para dizer: “Boa noite. Estou aqui para trazer paz e conforto!”. Este tipo de mensagem se repete por sessões seguidas, sem que o Espírito comunicante apresente qualquer idéia mais elevada. Mas as pessoas se habituaram a isso e continuaram batendo na mesma tecla durante anos. É cômodo e dá a impressão de que o médium está participando do trabalho mediúnico, quando na verdade não está produzindo nada de útil.

Allan Kardec recomendou que se desse preferência ao desenvolvimento da psicografia, mas infelizmente não foi ouvido. No programa do Movimento de Reformas temos dado ênfase à volta da mediunidade psicográfica, principalmente porque estamos envidando esforços para recriarmos o Controle Universal dos Espíritos, única forma de aceitarmos com boa margem de segurança, os ensinamentos provenientes do mundo invisível.

Como começar - Não há qualquer mistério para se dar início ao trabalho de psicografia. Basta que se tome um lápis e se coloque na posição de escrever. De preferência, que este trabalho seja desenvolvido no centro espírita onde a pessoa frequenta. O ambiente residencial nem sempre oferece as condições de recolhimento suficientes para esse tipo de trabalho. Essas atividades mediúnicas devem ter uma regularidade, pois de outro modo não haverá o processo de aprendizado, seguido do aperfeiçoamento.

A seguir, vamos comentar algumas recomendações do Codificador, quanto ao exercício da psicografia. Elas precisam ser observadas pelos grupos mediúnicos, mormente quando estão iniciando.

Em primeiro lugar, é preciso se desembaraçar de tudo o que se constitua em impedimento para a movimentação das mãos. Blusas de mangas compridas, pulseiras, relógios e anéis são objetos que devem ser retirados para facilitar a movimentação do braço. A ponta do lápis deve manter-se apoiada no papel, mas sem oferecer resistência aos movimentos. Mesmo a mão não deve se apoiar inteiramente no papel.

Para a escrita mediúnica é indiferente que se use caneta ou lápis, sendo livre a escolha. Kardec recomenda que no início o treinamento seja realizado diariamente. Porém, como temos hoje uma vida muito atribulada, convém que a frequência seja diminuída para um período de três vezes na semana.

O tempo de tentativa para se obter a escrita mediúnica psicográfica não deverá ultrapassar seis meses. Depois dessa fase de experimentos, se a pessoa nada conseguir, convém abandonar o exercício da escrita e dedicar-se a outras tarefas na casa espírita.

Todo médium novato tem um desejo muito natural de conversar com algum parente ou amigo falecido. Mas devem evitar evocá-los, enquanto não possuírem a experiência necessária para tanto. No começo, é melhor que as comunicações sejam espontâneas. Que a prece de abertura seja sempre feita em nome de Deus e dos bons Espíritos.

Que o médium em exercício comece seu trabalho dessa forma: “Rogo a Deus todo poderoso permitir a um bom Espírito vir comunicar-se comigo, fazendo-me escrever. Rogo também a meu anjo guardião que me assista e que afaste de mim os Espíritos maus”.

A partir desse momento, aguarda-se que um Espírito se manifeste. Nos médiuns intuitivos, surgem idéias bruscamente, que podem ser passadas para o papel com facilidade. Nos semi-mecânicos, observa-se alguns pequenos movimentos involuntários das mãos, acompanhados ou não das idéias a serem transcritas. Há casos em que o Espírito desenha rabiscos sem sentido, ou escrevem palavras sem qualquer significado porém, tais coisas costumam cessar com o desenvolvimento progressivo da faculdade.

Quando formular as primeiras perguntas aos Espíritos, que elas sejam feitas de forma simples, de modo que a entidade comunicante possa respondê-las com um Sim ou Não. É importante que as perguntas sejam objetivas e respeitosas, demonstrando carinho ao Espírito que vem cuidar do exercício da faculdade.

Quando o desenvolvimento mediúnico for realizado por um grupo de pessoas, convém que se reunam regularmente numa mesma sala, para realizar o treinamento da psicografia. O recolhimento deverá ser religioso e os apelos citados acima feitos de forma coletiva. Normalmente, entre dez pessoas, três escrevem facilmente sob a influência espiritual. O desenvolvimento em grupo é muito mais rápido do que o individual. Isso acontece porque a corrente magnética formada pelas individualidades facilita as atividades mediúnicas e oferece aos Espíritos comunicantes uma grande variedade de elementos, apropriados ao sucesso do intento.

Que o iniciante seja informado que deve desenvolver o texto como se fosse uma outra pessoa; que vai fazer uma espécie de redação sobre um assunto que julgar útil e que lhe surgir na mente naquele momento. Que ele não se preocupe tanto com a forma, nem com o que está escrevendo. O conteúdo dos trabalhos será examinado e revisado mais tarde pelo médium e pelo responsável da sessão.

A publicação de mensagens precisa de cuidados extras. Só se publicará textos, seja em forma de mensagens ou livros, quando eles forem considerados idôneos e úteis às pessoas em geral. A ortografia deverá ser corrigida, de modo que fique inteligível, cuidando-se, no entanto, para que não sejam modificados os pensamentos do Espírito.

É importante recordar que na fase primária de exercícios, os Espíritos comunicantes são de uma ordem menos elevada. Portanto, não se deve pedir a eles que dêem qualquer tipo de informação que não esteja a seu alcance. Todo Espírito que nas comunicações de iniciantes se enfeite com nome venerado é de origem suspeita. O capítulo XVII de O Livro dos Médiuns deverá ser estudado minuciosamente para se evitar o domínio dos maus Espíritos nas sessões de iniciação.


Conselhos kardequianos

1 - Nos casos de mediunidade semi-mecânica ou intuitiva, o médium tem consciência do que escreve. A princípio, é levado naturalmente a duvidar de sua faculdade. Não sabe se a escrita é dele ou do Espírito que comunica. Mas ele não deve absolutamente inquietar-se com isso e deve prosseguir, apesar da dúvida. Observando seus escritos, vai notar que muitas idéias que estão neles, não são suas. Com o tempo, ganhará confiança e a mediunidade triunfará.

2 - Nas primeiras sessões, quando o médium hesitar frente a um pensamento, sem saber se é dele ou do Espírito, ele deverá escrevê-lo. A experiência mais tarde lhe ensinará a fazer a distinção. Há situações em que é desnecessário saber se o pensamento é do médium ou do Espírito. Desde que produza boas obras, que é o que importa, deve agradecer seu guia oculto, que lhe sugerirá outras idéias.

3 - Os médiuns novatos, durante sua fase de aprendizado, não podem dispensar a assistência de dirigentes ou médiuns mais experientes. Espíritos inferiores costumam armar ciladas para prejudicar o desenvolvimento das faculdades mediúnicas dos interessados. Um médium presunçoso não demorará muito a ser enganado por entidades mentirosas que, no começo da tarefa mediúnica, costumam ficar à sua volta.

4 - Uma vez desenvolvida a faculdade mediúnica, aconselha-se que o médium não abuse dela. Que discipline seu trabalho e que ele seja sustentado pela ação no serviço ao próximo, pelo estudo, pela meditação e por preces constantes. A psicografia, assim como outras formas de prática mediúnica, deve ser utilizada somente em momentos oportunos e nunca por simples curiosidade ou interesse particular. O entusiasmo que toma conta de alguns novatos pode levá-los a ficar sob a influência de Espíritos mistificadores.

5 - É conveniente que o médium ou a equipe de médiuns tenham dias e horários especificados para realizar seus trabalhos mediúnicos. Isso facilitará o recolhimento e proporcionará aos Espíritos comunicantes melhores disposições para as manifestações.

6 - As mensagens destinadas ao grupo ou que sejam de interesse geral devem ser divulgadas para que os ensinamentos dos Espíritos tornem-se conhecidos. Os Espíritos amigos costumam afastar-se dos médiuns que não revelam as lições por eles transmitidas e os deixam entregues a entidades mistificadoras.

7 - Quando possível, os médiuns devem participar de esforços no sentido de colocar em funcionamento o Controle Universal dos Espíritos, instrumento de aferição de erros e das novas idéias a serem introduzidas na Doutrina Espírita.


O Controle Universal dos Espíritos

A revelação da Doutrina Espírita deu-se com o lançamento de O Livro dos Espíritos, a 18 de abril de 1857. Sua característica universalista fundamentava-se no trabalho de uma plêiade de Espíritos que se comunicaram em várias partes do planeta, falando das mesmas coisas.

Allan Kardec fundamentou a autoridade da Doutrina sobre esse aspecto. Com o estabelecimento das bases do Espiritismo, definiu-se que o trabalho doutrinário futuro não ficaria restrito a um médium, um grupo ou instituição. Tudo o que no futuro fosse feito, deveria ser submetido a um sistema de controle que ele denominou Controle Universal dos Espíritos.

No seu tempo, o Codificador era o coordenador do Controle Universal. Depois de sua morte, não houve quem desse seguimento ao seu trabalho. Quando o Espiritismo se transferiu para o Brasil, os primeiros agrupamentos nascentes não se preocuparam em dar seguimento às instruções preciosas deixadas pelo mestre. Não se sabe o motivo pelo qual isso aconteceu.

Os grupos e pessoas que deram origem à Federação Espírita Brasileira - FEB, criaram um sistema espírita muito diferente daquele idealizado por Allan Kardec e nele nunca esteve presente o Controle Universal dos Espíritos, o que se constituiu numa grave falha daquela casa espírita.

O Controle Universal dos Espírito é o mecanismo que deveria garantir a unidade doutrinária e evitar cismas dentro do movimento espírita. Sem ele, o sistema tornou-se vulnerável e várias teorias estranhas foram introduzidas nas práticas, sem que houvesse tido a sua chancela.

Houvesse um órgão centralizador, que pudesse avaliar as mensagens que lhe fossem enviadas regularmente pelos centros espíritas adesos do Controle, ele poderia saber sobre as novas revelações e auxiliar a fazer as correções doutrinárias necessárias às teorias.

Evidente que tudo isso seria feito conforme as instruções deixadas por Allan Kardec, que previu a revisão doutrinária em espaços de vinte e cinco anos. Hoje, depois de quase cento e cinquenta anos do início da Codificação, nenhuma dessas revisões foi feita e nem se possui os mecanismos necessários a tais aferições.

Como funcionaria o Controle? Simples. Nos casos do aparecimento de doutrinas e práticas estranhas ao Espiritismo, ou que pelo menos tivessem pontos obscuros em suas teorias, por exemplo, o Controle seria acionado. O órgão controlador enviaria as mesmas perguntas a todos os centros ligados a ele, para que estes o ajudassem a resolver a questão. Pelas respostas dadas pelos médiuns dessas casas espíritas seria possível separar com relativa facilidade a verdade da impostura.

Allan Kardec usava esse sistema e correspondia-se com cerca de mil agrupamentos espíritas em seu tempo. Recebia mensagens de boa parte deles, por meio das quais desenvolveu seguramente todo o mecanismo que governa a Doutrina Espírita.

Falando da universalidade da Doutrina o Codificador assim se manifesta:

Revista Espírita, ano 1864, número de abril, no artigo “Autoridade da Doutrina Espírita”.

“Quis Deus que a nova revelação chegasse aos homens por uma via mais rápida e mais autêntica. Eis porque encarregou os Espíritos de a levar de um a outro polo, manifestando-se por toda parte, sem dar a ninguém o privilégio exclusivo de ouvir a sua palavra. Um homem pode ser enganado; pode mesmo enganar-se; assim não poderia ser quando um milhão de homens vêem e ouvem a mesma coisa: é a garantia para cada um e para todos".

“O Espiritismo encontra aí (no Controle Universal) uma onipotente garantia contra os cismas que poderia suscitar, pela ambição de uns, ou pelas contradições de certos espíritas. Seguramente essas contradições são como escolho, mas que leva em si o remédio ao lado do mal.

“Sabe-se que os Espíritos, por força da diferença existente em suas capacidades, estão longe de estar individualmente na posse de toda a verdade; que nem a todos é dado penetrar certos mistérios; que seu saber é proporcional à sua depuração; que os Espíritos vulgares não sabem mais que os homens e até menos que certos homens; que entre eles, como entre estes, há presunçosos e pseudo-sábios, que crêem saber o que não sabem, sistemáticos que tomam suas idéias como verdades; enfim, que os Espíritos de ordem mais elevada, os que estão completamente desmaterializados, são os únicos despojados das idéias e preconceitos terrenos. Mas sabe-se, também, que os Espíritos enganadores não têm escrúpulos em esconder-se sob nomes de empréstimo, para fazerem aceitas suas utopias. Disso resulta que, para tudo o quanto esteja fora do ensino exclusivamente moral, as revelações que cada um pode obter têm um caráter individual, sem autenticidade; que devem ser consideradas como opiniões pessoais de tal ou qual Espírito, e que seria imprudente aceitá-las e promulgá-las levianamente como verdades absolutas.

“O primeiro controle é, sem contradita, o da razão, ao qual é necessário submeter, sem exceção, tudo o que vem dos Espíritos. Toda teoria em contradição manifesta com o bom senso, com uma lógica rigorosa, e com os dados positivos que possuímos, por mais respeitável que seja o nome que a assine, deve ser rejeitada. Mas esse controle é incompleto para muitos casos, em virtude da insuficiência de conhecimentos de certas pessoas e da tendência de muitos, de tomarem seu próprio juízo por único árbitro da verdade.

“Em tais casos, que fazem os homens que não confiam absolutamente em si mesmos? Aconselham-se com os outros, e a opinião da maioria lhes serve de guia. Assim deve ser no tocante ao ensino dos Espíritos, que nos fornecem por si mesmos os meios de controle.

"A concordância no ensino dos Espíritos é portanto o seu melhor controle, mas ainda é necessário que ela se verifique em certas condições. A menos segura de todas é quando um médium interroga por si mesmo numerosos Espíritos, sobre uma questão duvidosa. É claro que, se ele está sob o império de uma obsessão, ou se tem relação com um Espírito embusteiro, este Espírito pode dizer-lhe a mesma coisa sob nomes diferentes. Não há garantia suficiente, da mesma maneira, na concordância que se possa obter pelos médiuns de um mesmo centro, porque eles podem sofre a mesma influência.

"A única garantia segura do ensino dos Espíritos está na concordância das revelações feitas espontaneamente, através de um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros, em diversos lugares".

“...Na nossa posição, recebendo as comunicações de cerca de mil centros espíritas sérios, espalhados pelos mais diversos pontos do globo, estamos em condições de ver quais os princípios sobre que essa concordância se estabelece. É esta observação que nos tem guiado até hoje, e é igualmente ela que nos guiará, através dos novos campos que o Espiritismo está convocado a explorar. É assim que, estudando as comunicações recebidas nos diversos lugares, tanto na França quanto do exterior, reconhecemos, pela natureza toda especial das revelações, que há uma tendência para entrar numa nova via, e que se chegou o momento de se dar um passo à frente...".

“Esse controle universal é uma garantia para a unidade futura do Espiritismo, e anulará todas as teorias contraditórias. É nele que, no futuro, se procurará um criterium da verdade".

O Evangelho Segundo o Espiritismo, item II, da Introdução.

“...E resulta mais, que as instruções dadas pelos Espíritos, sobre os pontos da doutrina ainda não esclarecidos, não teriam força de lei, enquanto permanecessem isoladas, só devendo, por conseguinte, ser aceitas sob todas as reservas, a título de informações”.

Após essas considerações, chega-se à questão: temos o direito de buscar a progressão da Doutrina Espírita, modificando-a em algum ponto ou acrescentando-lhe coisas novas? Sim, não apenas temos o direito, como temos o dever de fazê-lo. Se não o temos, qual é o argumento para a negativa? Se temos, por que nada fizemos após mais de um século? Houve falhas na condução do processo? Sim, é bem possível que isso tenha acontecido.

Em que o Controle Universal dos Espíritos poderia nos ajudar? Em muitas coisas. Atualmente, há controvérsias e desentendimentos em termos doutrinários. São várias questões que precisam ser esclarecidas pois estão tomando vulto no movimento espírita, influenciando sobremaneira as práticas e o futuro do sistema.

Teorias como a Transcomunicação (TCI), Terapia Regressiva a Vivências Passadas - TRVP, o Roustainguismo, a Cromoterapia, o Armondismo, o Ubaldismo etc, merecem uma opinião geral dos Espíritos. E não só através de um médium. Opiniões que precisam ser dadas por Espíritos, em vários lugares, através de diversos médiuns, que não se conheçam entre si.

Podemos continuar admirando Allan Kardec como um homem diferente e distante do comum dos mortais, como estamos acostumados a adorar os santos de outras religiões. Mas podemos ir além, e realmente segui-lo, colocando em prática suas instruções, com a certeza de que somos capazes de continuar a sua obra.

Neste ano de 1996, fala-se que temos no Brasil uma rede de mais de seis mil centros espíritas, quase todos contando com médiuns para realizarem seus trabalhos mais comuns de atendimento aos sofredores. Os meios de comunicação são superiores aos do final do século passado. Só nos falta a boa vontade para criarmos o Controle Universal dos Espíritos. O Grupo Espírita Bezerra de Menezes, de São José do Rio Preto, SP, convida você para participar do Controle Universal. Se sua casa espírita possui médiuns que fazem um trabalho regular de psicografia ou psicofonia, inscreva-se.

Veja como seu grupo pode participar:

1 - O Controle Universal dos Espíritos é um posicionamento doutrinário que se assumirá em torno de questões de interesse geral. Ele será conseguido por meio das comunicações obtidas através de diversos médiuns que não se conheçam entre si. Este trabalho será feito por meio de comunicações espontâneas e também através do envio de questões a serem respondidas pelos Espíritos. As respostas serão comparadas pelos coordenadores e os resultados divulgados posteriormente. Um conceito verdadeiro sempre é comunicado simultaneamente pelos bons Espíritos, em diversos centros espíritas que possuam médiuns sérios.

2 - O Grupo Espírita Bezerra de Menezes está fazendo uma campanha com a finalidade de fazer renascer o Controle Universal e fará a coordenação dos trabalhos mediúnicos experimentais junto aos centros espíritas interessados.

3 - A equipe que quiser participar deverá se inscrever na recepção do Entrade.

4 - Dentro de alguns dias, uma ficha de inscrição será enviada pelo Correio ao centro espírita interessado junto com as informações complementares.

5 - Alguns testes serão feitos para avaliar as condições mediúnicas dos trabalhadores interessados.


A Doutrinação dos Espíritos

A técnica de doutrinação dos Espíritos difere muito de grupo para grupo. Pode-se mesmo afirmar, que cada doutrinador tem uma maneira própria de realizar este tipo de atividade. Entre nós, espíritas, ainda existe muita confusão em torno de como se deve conversar com os desencarnados, quando se pretende instruí-los.

Poucos estudos foram desenvolvidos em torno desse tema e alguns deles, incompletos, acabaram sendo tomados como um elemento de referência para as atividades mediúnicas de muitas pessoas. Produzidos em grupos familiares, que lidavam com sessões experimentais, atendendo Espíritos sofredores, deixam muito a desejar quando o assunto é o dia-a-dia da casa espírita.

Foram experiências válidas, não há dúvidas, mas ainda distantes da realidade do que se passa na intimidade do centro espírita, onde normalmente se lida com uma grande variedade de Espíritos desencarnados.

No Movimento de Reformas temos aconselhado que as pessoas deixem um pouco de lado os autores contemporâneos, para examinarem e orientarem-se pela metodologia kardequiana. Nos trabalhos de Allan Kardec existem preciosas instruções que facilitam o desempenho dessas atividades com real aproveitamento.

Doutrinações esfuziantes, ou com excessiva mansidão; discursos maravilhosos, que mais servem aos brios do doutrinador do que para atender as verdadeiras necessidades do comunicante, pouco significam em termos espirituais.

O trabalho mediúnico da casa espírita precisa ser avaliado quanto à sua produtividade. Para isso, basta que se coloquem pessoas obsediadas sob os cuidados da equipe mediúnica, que se utilizando dos métodos de doutrinação, tentará realizar o processo desobsessivo.

Se estiver trabalhando corretamente, a equipe conseguirá uma redução entre 50 e 60% dos sintomas presentes, sem dizer que em muitos desses casos, os pacientes ficarão totalmente curados.

Se os perturbados continuarem na mesma situação em que se encontravam antes, o trabalho de doutrinação e orientação está sendo mal conduzido.

Métodos, sejam de doutrinação, de desenvolvimento mediúnico ou desobsessão devem ser regularmente provados com resultados. Tudo deve ser anotado em papel e comparado racionalmente. Allan Kardec tinha sua própria metodologia para lidar com os Espíritos desencarnados. Por que nós, que somos seus discípulos, não podemos nos conduzir pela mesma linha de ação?

O Livro dos Médiuns e alguns estudos do Codificador existentes na Revista Espírita oferecem subsídios importantes na arte de dialogar e instruir os Espíritos. Nesse estudo, vamos relembrar alguns desses pontos e comentá-los como forma de estímulo à melhoria das práticas.

Alguns trabalhadores espíritas costumam afirmar que o termo “doutrinar” não é correto, pois transmite a idéia de se violentar consciências. Este tipo de preocupação não tem qualquer sentido. O termo “doutrinação” é legitimamente kardequiano e não há nada que o desabone.

Os homens de bem exercem uma influência salutar sobre os Espíritos sofredores, ignorantes ou maus. Através de preces e instruções convenientes ministradas, pode-se contribuir muito para melhorá-los espiritualmente. A técnica de interrogar, dialogar e instruir um Espírito imperfeito chama-se “doutrinação”.

Condições para a doutrinação - Um das condições fundamentais para o doutrinador ser bem sucedido no seu intento é que tenha razoável condição moral. Isso lhe dará condições para exercer certo domínio sobre o Espírito comunicante. Precisará ainda ter conhecimento da Doutrina, para saber discernir a verdade da impostura. Quanto maior for este conhecimento, menos sujeito ficará à ação de Espíritos enganadores, que pululam por toda parte.

O dirigente das sessões mediúnicas ou doutrinador precisa ser uma pessoa dotada de razoável bom senso e que tenha sua mente livre de muitas fantasias existentes no movimento. Assim, ele terá condições para melhor analisar a produtividade dos trabalhos.

Deverá evitar comparações entre as situações de sofrimento observadas em sessões práticas, com aquelas narradas na literatura mediúnica, dita complementar. Tais posicionamentos produzem confusões e estimulam nos médiuns o animismo.

A disciplina interna de funcionamento será condição imprescindível ao equilíbrio da reunião. Alguns acertos deverão ser feitos entre dirigente e médiuns para que não ocorram situações desagradáveis, tal como a interrupção da conversa com os Espíritos comunicantes por ação de algum participante encarnado ou não.

Como se deve falar com os Espíritos? - Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, aconselha-nos que utilizemos de uma linguagem que esteja em relação com a situação moral do Espírito comunicante. Se for um Espírito bom ou de uma ordem superior, devemos nos dirigir a ele com respeito e consideração. No entanto, não é necessário nos colocarmos na situação de submissão total aos desencarnados, como se vê frequentemente.

Os Espíritos já desmaterializados, não se importam com cargos ou deferências que se lhes possam fazer os doutrinadores. Portanto, não devemos nos dirigir aos Benfeitores com os títulos pomposos de “doutor”, “excelência”, “eminente”, “inesquecível”, “inolvidável”, “querido” etc. Só Espíritos pouco adiantados se prendem a esse tipo de referência.

Vale recordarmos a passagem existente em O Livro dos Médiuns, onde se evocou um sacerdote pelo título de Monsenhor. A resposta do Espírito foi a seguinte: “Devias pelo menos dizer ex-monsenhor, pois aqui só há um Senhor que é Deus. É bom saberes que vejo aqui os que se ajoelhavam diante de mim na Terra e diante deles me inclino”.

Quando nas aberturas das sessões práticas, houver dificuldades para as manifestações dos amigos espirituais, o dirigente deverá provocá-las, estimulando os médiuns ao trabalho. Recordo-me de uma reunião mediúnica, onde presenciei uma equipe de médiuns que se manteve em silêncio por cerca de vinte minutos. Quando vi que não aconteceria nada, perguntei ao dirigente o que estávamos fazendo ali, parados. Ele disse que estávamos aguardando os mentores se comunicarem. Pensei comigo: mas será que eles estão atrasados para os trabalhos ou coisa parecida? Claro que não! Certamente os médiuns foram condicionados àquela atitude e os costumes daquela casa os colocavam naquela constrangedora condição.

Pedi licença e fiz uma evocação fervorosa aos bons Espíritos e as comunicações começaram a acontecer, sem qualquer problema.

É importante compreender que a direção da sessão está nas mãos dos encarnados e o dirigente da mesa é quem deve conduzir as manifestações, solicitando-as, impedindo-as e ordenando-as quando necessário.

A abertura, por exemplo, pode ser feita desse modo: “Gostaria de pedir aos Benfeitores que nos assistem, que escolhessem um dos médiuns em condições de passividade, para nos transmitir algumas palavras instrutivas, ou destinadas a orientar as atividades”.

Os Espíritos amigos manifestam-se com a maior satisfação, pois querem nos ajudar com a instrução e desejam que seus pensamentos tornem-se conhecidos.

Na relação com os Espíritos inferiores, alguns cuidados precisam ser tomados. O próprio caráter de cada manifestante e a situação em que estiver envolvido determinará a linguagem a ser utilizada. Kardec diz que entre os Espíritos há aqueles que, embora sejam inofensivos e até mesmo benévolos, são levianos, estouvados e ignorantes. Seria uma falta de senso tratá-los como se faz aos Espíritos realmente superiores.

Que sejam tratados com a mesma naturalidade e educação com a qual trataríamos uma pessoa encarnada com essas características de personalidade.

Devemos evitar utilizar para com os Espíritos inferiores um tom muito familiar, pois isso faz com que os laços vibratórios entre eles e nós se estreitem, abrindo caminho para estar sempre nos trabalhos. Seria o mesmo que deixarmos uma pessoa qualquer que conhecemos a pouco, tornar-se íntima de nossa casa. Pouco sabemos de sua intimidade e acolhê-la como se fosse um amigo, seria correr riscos imprevisíveis. O bom senso manda que tenhamos cuidado para os que, embora não sejam maus, também não possuam qualificativos que os destaquem.

Entre os Espíritos inferiores existem aqueles que são infelizes e que sofrem desgraçadamente por causa do gênero de vida que levaram na Terra. Devemos recebê-los nas sessões mediúnicas com sentimentos de piedade e benevolência, compadecendo-nos dos seus sofrimentos. A prece e os bons conselhos os confortam, mas nem sempre os tiram instantaneamente dos sofrimentos.

Há Espíritos maus que se apresentam com linguagem cínica e seus diálogos apresentam-se marcados por contradições e mentiras. Dão conselhos pérfidos aos que lhes dão ouvidos. Esses certamente são menos dignos de interesse, do que aqueles que se apresentam arrependidos, mas nem por isso, devemos abandoná-los à própria sorte. Kardec diz que devemos tratá-lo com a piedade que nos inspira os grandes criminosos.

Ao contrário de alguns dirigentes que acham correto deixá-los falar indefinidamente, o Codificador aconselha reduzi-los ao silêncio, mostrando que não nos podem enganar. Este tipo de entidade desencarnada só estabelece intimidade com pessoas das quais nada tem a temer.

É Kardec quem resume a metodologia de diálogo com os Espíritos de forma clara e objetiva: “Seria irreverente tratarmos os Espíritos superiores de igual para igual, como seria ridículo dispensarmos a todos, sem exceção, a mesma deferência. Tenhamos veneração pelos que a merecem, reconhecimento pelos que nos protegem e assistem, e para todos os outros a benevolência de que talvez nós mesmos necessitemos um dia. Descobrindo o mundo incorpóreo aprendemos a conhecê-los e esses conhecimentos devem regular as nossas relações com os seus habitantes.

"Os antigos, na sua ignorância, levantaram altares a eles. Para nós, os Espíritos não passam de criaturas mais ou menos perfeitas e só elevamos altares a Deus” - (O Livro dos Médiuns, questão 280, Linguagem a usar com os Espíritos).

Alguns agrupamentos espíritas não efetuam evocações de desencarnados porque, segundo eles, tais práticas seriam perigosas e colocariam os evocadores à mercê de entidades galhofeiras. Ainda aqui, o que se observa é o desconhecimento das lições deixadas por Allan Kardec. Vejamos o que diz o texto do mestre:

“Temos visto médiuns, justamente ciosos de conservar suas boas relações com o além-túmulo, recusar-se a servir de intérpretes dos Espíritos inferiores que podem ser chamados. É de sua parte uma susceptibilidade mal entendida. Pelo fato de evocarmos um Espírito vulgar, e mesmo mau, não ficaremos sob a dependência deste. Longe disso, e ao contrário, nós é que dominaremos: não é ele que vem impor-se, contra a nossa vontade, como nas obsessões; somos nós que nos impomos; ele não ordena, obedece; nós somos o seu juiz e não a sua presa. Além disso, podemos ser-lhes úteis por nossos conselhos e por nossas preces e eles nos ficam reconhecidos pelo interesse que demonstramos. Estender a mão em socorro é praticar uma boa ação; recusá-la é falta de caridade; ainda mais, é orgulho e egoísmo. Esses seres inferiores são para nós um grande ensinamento. Foi por seu intermédio que pudemos conhecer as camadas inferiores do mundo espírita e a sorte que aguarda aqueles que aqui fazem mau emprego de sua vida.

"Notemos, além do mais, que é quase sempre tremendo que eles vêm às reuniões sérias, onde dominam os bons Espíritos; ficam envergonhados e se mantêm à distância, ouvindo a fim de instruir-se. Muitas vezes vêm com esse objetivo, sem terem sido chamados.

"Por que, pois, recusaríamos a ouvi-los, quando muitas vezes seu arrependimento e seu sofrimento constituem motivo de edificação ou, pelo menos, de instrução?

"Nada há que temer destas comunicações, desde que visem o bem. Que seriam dos pobres feridos se os médicos se recusassem tocar em suas chagas?” - (Allan Kardec, Revista Espírita, ano 1859, número de Dezembro).

Não há qualquer dúvida: se a equipe mediúnica for constituída de pessoas sérias, não há qualquer motivo para temer a relação com os Espíritos imperfeitos. Se um Espírito inconveniente se manifestar e resolver falar asneiras, o dirigente da mesa deve obrigá-lo a afastar-se. Se não se mostra acessível aos bons conselhos, convém que se afaste do grupo. De outro modo, pode tornar-se íntimo dos médiuns e passar a obsediá-los com diálogos banais e inúteis.

O diálogo com os Espíritos - O diálogo que vamos ter com os Espíritos também depende das circunstâncias que envolvem a situação. Se estamos trabalhando numa sessão de atendimento a sofredores, o diálogo será o mesmo que se daria num pronto-socorro. Suponhamos que estivéssemos trabalhando na emergência de um hospital e que num dado momento ali chegasse um acidentado todo quebrado e em risco de morte. Qual seria o diálogo que teríamos com ele? Iríamos indagá-lo sobre sua vida pessoal ou profissão; se é feliz ou infeliz; se é jovem ou velho? Certamente que não! A primeira providência a tomar será a de ministrar-lhe os primeiros socorros.

Na sessão espírita, o socorro constitui-se na prece e em algumas palavras que expressam sentimentos de comiseração. Falemos ao Espírito desesperado que procure acalmar-se, pois encontra-se num ambiente em que lhe será ministrado socorro. Digamos-lhe, em alto e bom som: “Acalme-se meu irmão, você está num lugar onde vamos ampará-lo. Acalme-se!”.

A seguir, que seja feita uma prece acompanhada em pensamento por todos, de modo a envolver o Espírito em vibrações harmoniosas. Depois, se a condição da entidade permitir, façamos algumas perguntas preliminares, tais como, o sexo, idade aproximada, gênero de vida, percepção do ambiente etc. Se isso não for possível, façamos um pedido aos Benfeitores da casa, que o encaminhe para uma colônia de assistência. Em sessão próxima, poderemos dialogar com ele, caso haja esse desejo.

Suponhamos agora, a sessão de desobsessão. Imaginemos que estamos trabalhando numa instituição, onde vão nos trazer algumas pessoas violentas, outras enlouquecidas e até criaturas malvadas para diálogos. É evidente que os cuidados serão outros e a linguagem a ser utilizada, bem diferente daquela utilizada no pronto-socorro. Teremos mesmo que ter cautela, pois nossa integridade poderá ser ferida pela agressividade e desequilíbrio das mentes enfermiças que vão passar por ali. Uma sessão assim demanda cuidados especiais e pede do dirigente espírita a energia suficiente para controlar os desajustados que se manifestarão de modos diversos. Energia, amparada na benevolência, evidentemente.

As sessões onde se doutrinam Espíritos obsessores são mais investigativas, pois nelas procura-se sondar os motivos que levaram o desencarnado a embrenhar-se pela via obsessiva. Não é necessário saber detalhes muito minuciosos sobre a obsessão. Se há um caso de vingança, por exemplo, não é preciso se conhecer a história dramática na íntegra, para solucionar o drama.

Basta que a orientação seja ministrada partindo do princípio de que todo desentendimento é fruto da ignorância frente às leis de Deus. O dirigente demonstrará racionalmente a inutilidade da vingança e explicará que só o Criador tem o direito de corrigir malvadezas.

Casos obsessivos, onde os detalhes são esclarecidos, e que servirão de instrução aos estudiosos da alma, normalmente não saem das mesas de desobsessão, mas sim do trabalho de médiuns desenvolvidos o suficiente para tanto e que possuem a tarefa de transmitir essas informações para a Terra. Cada coisa, pois, tem o seu lugar.

Nas sessões em que se pretende interrogar os bons Espíritos sobre determinados assuntos ou dúvidas, os participantes terão toda a liberdade para fazê-lo, no que os Benfeitores responderão de bom grado. Mas isso não dispensa que se coloque uma certa ordem nas questões e nos assuntos que vão ser tratados. No caso das perguntas serem respondidas por médiuns psicofônicos, convém que a sessão seja gravada, e depois transcritas para o papel.

Conselhos úteis - Daremos a seguir alguns conselhos que achamos ser de utilidade aos que lidam com as sessões práticas de Espiritismo. São regras já conhecidas e já foram citadas por autores diversos. No entanto, nunca será demais recordarmos algumas delas, para facilitar o bom andamento dos trabalhos.

a) Nenhuma pessoa deve se colocar como dirigente de sessão prática de Espiritismo ou mesmo se posicionar como doutrinador, sem que tenha o conhecimento doutrinário suficiente para isso. Aos que postularem esse posto, será indispensável o estudo regular de O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Livro dos Médiuns e O Livro dos Espíritos.

b) O dirigente da mesa mediúnica e os doutrinadores de modo geral devem portar-se com humildade e simplicidade seja nas sessões mediúnicas ou fora delas. Devem lembrar-se que a verdadeira humildade nada tem a ver com as aparências, nem com o tom de voz que se usa nas conversas empreendidas com os Espíritos.

c) A reunião mediúnica sempre deverá ser precedida de uma explanação de uma lição de O Evangelho Segundo o Espiritismo ou de um trecho de O Livro dos Espíritos, necessários à instrução filosófica-moral e à formação do ambiente psíquico, propício ao bom andamento das atividades de intercâmbio.

d) Na organização da sessão prática, o dirigente deverá fazer o possível para dirigi-la com critérios racionais. Que o tempo disponível às comunicações seja dividido em períodos distintos. O período instrutivo, será destinado às comunicações dos Benfeitores. O período de manifestações espontâneas servirá às comunicações livres, seja de Espíritos sofredores, ignorantes ou maus. Por último, haverá o chamado período das evocações. É nele que serão evocados nominalmente Espíritos desencarnados diversos, para fins investigativos ou de instrução.

e) No trato com os Espíritos manifestantes, o doutrinador procurará deduzir o sexo a que pertença o comunicante, simplesmente perguntando-lhe: És um irmão ou irmã?”. A partir daí, seguirá a linha psicológica ideal para a conversação.

f) Quando o doutrinador souber o tipo de Espírito que vai evocar, ele deverá escolher um médium mais apropriado àquele tipo de comunicação. Para isso, deverá ter um bom conhecimento das potencialidades de todos os seareiros que compõem sua equipe.

g) O doutrinador evitará discutir com Espíritos maldosos, que frequentemente procuram perturbar as sessões fazendo insinuações malévolas. Quando algum Espírito maldoso se apresentar com essas características, ele será afastado dos trabalhos, assim que possível.

h) Se forem observadas fixações mentais que dificultem o esclarecimento do Espírito manifestante, o doutrinador poderá solicitar aos amigos do Plano Espiritual que utilizem do fenômeno de retrospecção mental, para ajudá-lo a lembrar-se de fatos ocorridos no passado.

i) As instruções dadas a um determinado Espírito sofredor deverão, sempre que possível, ser ministradas de modo coletivo. Normalmente, existem outras entidades portando os mesmos problemas do comunicante, que poderão se beneficiar dos ensinamentos, mesmo sem se manifestarem. Lembremo-nos que o fenômeno de esclarecimento não precisa obrigatoriamente ocorrer por meio de médiuns.

j) O doutrinador sondará a intimidade do Espírito comunicante e conversará com ele utilizando de linguagem objetiva, evitando discursos doutrinários desnecessários. Muitas vezes um bom pensamento dirigido ao Espírito manifestante vale mais do que mil palavras.

k) O doutrinador deverá dirigir-se aos Espíritos inferiores e maléficos com autoridade moral e firmeza, evitando-se, porém, o azedume. Nesses casos, a benevolência deverá servir de elemento moderador à energia utilizada. Lembre-se de que a autoridade moral é dada acima de tudo pelo exemplo da vida sadia.

l) Sempre que necessário, o doutrinador poderá solicitar que um dos Benfeitores esclareça pontos obscuros do assunto tratado na sessão. Quando alguma dúvida persistir em certa comunicação deste ou daquele Espírito, o doutrinador ou dirigente da mesa solicitará na sessão seguinte, que ele esclareça aquilo que não ficou a contento.

m) O doutrinador evitará que ocorram manifestações simultâneas de Espíritos perturbados ou perturbadores, pois que são desnecessárias e colocam em risco a ordem moral vibratória do ambiente.

n) A única pessoa da mesa que está autorizada a dialogar com os Espíritos é o doutrinador, salvo situações em que ele ou o dirigente da mesa autorize um outro.

Conclusão: queremos concluir esse pequeno estudo sobre doutrinação de Espíritos, lembrando que a Codificação nos fornece seguras bases para a instrução proveitosa e o diálogo com os Espíritos, seja de que natureza forem. Instruções dadas em sentido contrário ao que está exposto nas obras básicas, devem ser consideradas somente como opinião pessoal de médiuns ou de Espíritos.

As obras ditadas por reconhecidos instrutores desencarnados, vindas ao plano material pelas mãos de médiuns conhecidos, tais como Francisco Cândido Xavier, Divaldo Pereira Franco, José Raul Teixeira e outros, merecem especial atenção dos estudiosos do Espiritismo. No entanto, nos pontos em que elas divergirem das instruções da Codificação, não deverão servir de elemento orientador para os trabalhos práticos.

No mais, é estudar e instruir-nos, utilizando o manancial de conhecimentos que nos deixou o Codificador, tendo a certeza de que, dessa forma, teremos menor probabilidade de nos envolver com Espíritos embusteiros.

(Fim do texto)

Colaboração

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O que é o Espiritismo

Como o próprio nome diz, trata-se da Doutrina dos Espíritos, assim como diríamos “Budismo, Doutrina de Buda”. Mas, se a doutrina é dos Espíritos, onde entra Allan Kardec nesta história? E onde estão ou estavam os Espíritos a quem é atribuída esta doutrina? Os Espíritos nada mais são do que a alma dos homens que já morreram e que viveram entre nós.

Há Espíritos evoluídos, dito Superiores e Espíritos menos evoluídos, dito Inferiores, distribuídos numa escala que vai do mais inferior até o mais superior, chegando-se depois aos Espíritos Puros, como é o caso de Jesus. Os Espíritos Superiores, portanto, através da mediunidade de vários médiuns (médium = intermediário; intermediário entre os Espíritos e os Homens), revelaram a Allan Kardec a existência dos Espíritos, a existência do Mundo Espiritual, a possibilidade da comunicação com este mundo e a necessidade de evolução espiritual, moral e intelectual, através da prática do Evangelho e da caridade, bem como da da reencarnação.

Kardec, portanto, catedrático em várias áreas, foi o codificador da Doutrina dos Espíritos ou Doutrina Espírita. Foi ele quem elaborou mais de mil perguntas, selecionando as respostas que mais satisfizessem ao bom senso e à razão e daí surgiu, em 1857, “O Livro dos Espíritos”, contendo a Filosofia Espírita.

Cabe ressaltar que a Doutrina Espírita nada tem a ver com a Umbanda e o Candomblé, cujas raízes são outras. Apenas os fenômenos mediúnicos são comuns a estas diferentes doutrinas. Cabe ressaltar ainda que uma das grandes missões do Espiritismo é resgatar o Evangelho de Jesus, sendo por isso mesmo considerada a Doutrina Espírita como o Cristianismo Redivivo.

Dárcio Cintra é escritor, com alguns livros publicados, e estudioso de assuntos espíritas; durante alguns anos, expositor da Federação Espírita do Estado de São Paulo, atualmente organizador do GETP( Grupo Espírita Transparência e Participação) e colunista de nosso site

O CÉU E O INFERNO (1865)

Lendo-se este livro com atenção vê-se que a sua estrutura corresponde a um verdadeiro processo de julgamento. Na primeira parte temos a exposição dos fatos que o motivaram e a apreciação judiciosa, sempre serena, dos seus vários aspectos, com a devida acentuação dos casos de infração da lei. Na segunda parte o depoimento das testemunhas. Cada uma delas caracteriza-se por sua posição no contexto processual. E diante dos confrontos necessários o juiz pronuncia a sua sentença definitiva, ao mesmo tempo enérgica e tocada de misericórdia. Estamos ante um tribunal divino. Os homens e suas instituições são acusados e pagam pelo que devem, mas agravantes e atenuantes são levados em consideração à luz de um critério superior.


A 30 de Setembro de 1863, como se pode ver em Obras Póstumas, Kardec recebeu dos Espíritos Superiores este aviso: "Chegou a hora de a Igreja prestar contas do depósito que lhe foi confiado, da maneira como praticou os ensinamentos do Cristo, do uso que fez de sua autoridade, enfim, do estado de incredulidade a que conduziu os espíritos". Esse julgamento começava com a preliminar constituída pelo Evangelho Segundo o Espiritismo e devia continuar com O Céu e o Inferno. Dentro de dois anos, em seu número de Setembro de 1865, a Revista Espírita publicaria em sua seção bibliográfica a notícia do lançamento do quarto livro de Codificação Espírita: O Céu e o Inferno. Faltava apenas A Gênese para completar a obra da Codificação da III Revelação.


Dois capítulos de O Céu e o Inferno foram publicados antecipadamente na Revista: o capítulo intitulado Da apreensão da morte, vigorosa peça de acusação, no número de Janeiro de 1865, e o capítulo Onde é o Céu, no número de Março do mesmo ano. Apareceram ambos como se fossem simples artigos para a Revista, mas o último trazia uma nota final anunciando que ambos pertenciam a uma "nova obra que o Sr. Allan Kardec publicará proximamente". Em Setembro a obra já aparece anunciada como à venda. Kardec declara que, não podendo elogiá-la nem criticá-la, a Revista se limitava a publicar um resumo do seu prefácio, revelando o seu conteúdo. Os capítulos antecipadamente publicados aparecem, o primeiro com o mesmo título com que saíra e o segundo com o título reduzido para O Céu.
Estava dado o golpe de misericórdia nos dogmas fundamentais da teologia do cristianismo formalista, tipo inegável de sincretismo religioso com que o Cristianismo verdadeiro, essencial e não formal conseguira penetrar na massa impura do mundo e levedá-la à custa de enormes sacrifícios. Kardec reafirma o caráter científico do Espiritismo. Como ciência de observação a nova doutrina enfrenta o problema das penas e recompensas futuras à luz da História, estabelecendo comparações entre as idealizações do céu e do inferno nas religiões anteriores e nas religiões cristãs, revelando as raízes históricas, antropológicas, sociológicas e psicológicas dessas idealizações na formulação dos dogmas cristãos.


A comparação do inferno pagão com o inferno cristão é um dos mais eficazes trabalhos de mitologia comparada que se conhece. A mitologia cristã se revela mais grosseira e cruel que a pagã. Bastaria isso para justificar o Renascimento. O mergulho da humanidade no sorvedouro medieval levou a natureza humana a um retrocesso histórico só comparável ao do nazi-fascismo em nosso tempo. Os intelectuais materialistas assustaram-se com o retrocesso do homem nos anos 40 do nosso século e puseram em dúvida a teoria da evolução. Se houvessem lido este livro de Kardec, saberiam que a evolução não se processa em linha reta; mas em ascensão espiralada.
Vemos assim que este livro de Kardec tem muito para ensinar, não só aos espíritas, mas também aos luminares da inteligência néo-pagã que perdem o seu tempo combatendo e Espiritismo, como gregos e romanos combateram inutilmente o Cristianismo. O processo espírita se desenvolve na linha de sequência do processo cristão. A conversão do mundo ainda não se completou. Cabe ao Espiritismo dar-lhe a última demão, como desenvolvimento natural, histórico e profético do Cristianismo em nosso tempo.


A leitura e o estudo sistemático deste livro se impõem a espíritas e não-espíritas, a todos os que realmente desejam compreender o sentido da vida humana na Terra.


Mesmo entre os espíritas este livro é quase desconhecido. A maioria dos que o conhecem nunca se inteirou do seu verdadeiro significado. Kardec nos dá nas suas páginas o balanço da evolução moral e espiritual da humanidade terrena até os nossos dias. Mas ao mesmo tempo estabelece as coordenadas da evolução futura. As penas e recompensas de após a morte saem do plano obscuro das superstições e do misticismo dogmático para a luz viva da análise racional e da pesquisa científica. É evidente que essa pesquisa não pode seguir o método das ciências de mensuração, pois o seu objetivo não é material, mas segue rigorosamente as exigências do espírito científico moderno e contemporâneo. O grave problema da continuidade da vida após a morte despe-se dos aparatos mitológicos para mostrar-se com a nudez da verdade à luz da razão esclarecida -

(José Herculano Pires, na introdução de O Céu e o Inferno, edições Lake)

O LIVRO DOS MÉDIUNS (1861)

Assim como O Livro dos Espíritos teve uma edição inicial de contato, ampliada definitivamente na segunda edição, também O Livro dos Médiuns foi precedido de um pequeno volume intitulado Instruções Práticas Sobre as Manifestações Espíritas. Publicado em 1858 esse pequeno volume foi substituído, em janeiro de 1861, pela primeira edição de O Livro dos Médiuns. A presente tradução foi feita da segunda edição, lançada por Didier & Cia. em 1862, sob revisão pessoal de Kardec: "com o concurso dos Espíritos e acrescida de grande número de novas instruções", como se lê no original francês. Foi essa a edição definitiva.


Com a preparação deste livro, Kardec considerou o Instruções Práticas superado. Seu desejo era que os espíritas estudassem mais a fundo o problema mediúnico, não ficando apenas nas informações iniciais daquele pequeno volume. Entretanto, 65 anos mais tarde, em 1923, Jean Meyer, que então presidia a Casa dos Espíritas, em Paris, achou conveniente lançar nova edição do Instruções Práticas. Essa edição despertou, no Brasil, o interesse de Cairbar Schutel, que depois dos necessários entendimentos com Meyer lançou entre nós, pela sua modesta e heróica editora de Matão, Estado de São Paulo, a primeira tradução brasileira da obra. Nova edição foi lançada em 1968 pela Casa Editora O Clarim, a mesma de Schutel, como parte das comemorações do primeiro centenário do nascimento de seu fundador. Instruções Práticas se impôs novamente ao meio espírita como um livro necessário, em virtude do seu caráter de síntese.


Apresentado por Kardec como continuação de O Livro dos Espíritos, este livro foi também considerado por ele como em grande parte obra deles, o que se pode verificar na Introdução. Os Espíritos o reviram, modificaram, acrescentando-lhe um número muito grande de observações e instruções do mais alto interesse. É o segundo volume da Codificação do Espiritismo e, como assinala Kardec, desenvolve a parte prática da doutrina. Por isso mesmo é o livro básico da Ciência Espírita, um tratado de mediunidade indispensável a todos os que se interessam pela boa realização de trabalhos mediúnicos e pelo desenvolvimento das pesquisas espíritas.


A tese fundamental deste livro é a existência do perispírito ou corpo energético dos Espíritos, elemento de ligação do espírito ao corpo material. Essa ligação, de tipo energético ou vibratório, é o princípio da mediunidade. Assim como o nosso espírito anima o nosso corpo através do perispírito, constituído em vida o que chamamos alma, os demais Espíritos, de mortos ou de vivos, podem influenciá-lo. Em sintonia com o nosso espírito podem mesmo utilizar-se de nosso corpo para as suas manifestações. Dessa maneira, a mediunidade é uma condição natural do homem, uma faculdade geral da espécie humana, que se revela em dois campos paralelos de fenômenos: os anímicos, decorrentes das atividades do nosso próprio espírito fora do condicionamento orgânico; e os espíritas, decorrentes das relações naturais do nosso espírito com outros Espíritos -

(José Herculano Pires, na introdução de O Livro dos Médiuns, edições Lake

A GÊNESE (1868)

A primeira edição foi publicada em janeiro de 1868. Esta nova obra constitui um passo à frente, nas consequências e aplicações do Espiritismo. Conforme indica o seu título, ela tem por objeto o estudo de pontos até hoje interpretados de modos divergentes: A Gênese, os milagres e as predições, em suas relações com as novas leis que decorrem da observação dos fenômenos espíritas.


Dois elementos ou, se o preferem, duas forças regem o universo: o elemento espiritual e o elemento material; da ação simultânea desses dois princípios nascem fenômenos especiais que são naturalmente inexplicáveis, se fizermos abstração de um dos dois, da mesma forma que a formação da água seria impossível se fossem abstraídos um de seus dois elementos constitutivos: o oxigênio e o hidrogênio.


O Espiritismo, demonstrando a existência do mundo espiritual e suas relações com o mundo material, nos dá a chave de uma multidão de fenômenos incompreendidos e considerados, por isso mesmo, inadmissíveis por uma certa classe de pensadores. Esses fatos são abundantes nas Escrituras e é pela falta de conhecimento das leis que os regem, que os comentadores dos dois campos opostos, movendo-se sem cessar no mesmo ciclo de idéias, uns fazendo abstração dos dados positivos da Ciência, os outros, do princípio espiritual, não puderam atingir uma solução racional. Esta solução está na ação recíproca do espírito e da matéria. Ela tira, é verdade, à maior parte desses fatos, seu caráter sobrenatural; mas, o que será melhor: admiti-los como derivados das leis da Natureza ou rejeitá-los completamente? Sua rejeição absoluta arrasta a da própria base do edifício, ao passo que a sua admissão a tal título, não suprimindo senão os acessórios, deixa a base intacta. Eis porque o Espiritismo atrai tantas pessoas à crença de verdades até então consideradas utopias. Esta obra é, portanto, conforme temos dito, um complemento das aplicações do Espiritismo, segundo um ponto de vista especial. Seu material estava pronto ou pelo menos elaborado há muito tempo; mas o momento de publicá-la não tinha chegado ainda. Era necessário, antes de mais nada, que as idéias constitutivas de sua base tivessem chegado à maturidade e, de outro lado, atentar para a oportunidade das circunstâncias.


O Espiritismo não tem mistérios nem teorias secretas; tudo nele é revelado com clareza, para que cada um possa julgá-lo com conhecimento de causa; mas, cada coisa deve vir a seu tempo para vir com segurança. Uma solução dada superficialmente, antes da elucidação completa da interrogação, seria uma causa de retardamento, ao invés de realizar o progresso -

(Introdução de A Gênese, edições Lake).

O LIVRO DOS ESPÍRITOS (1857)

Com este livro, a 18 de Abril de 1857, raiou para o mundo a era espírita. Nele se cumpria a promessa evangélica do Consolador, do Paracleto ou Espírito de Verdade. Dizer isso equivale a afirmar que "O Livro dos Espíritos" é o código de uma nova fase da evolução humana. E é exatamente essa a sua posição na história do pensamento. Este não é um livro comum, que se pode ler de um dia para o outro e depois esquecer num canto da estante. Nosso dever é estudá-lo e meditá-lo, lendo-o e relendo-o constantemente.


Sobre este livro se ergue todo um edifício: o da doutrina espírita. Ela é a pedra fundamental do Espiritismo, o seu marco inicial. O Espiritismo surgiu com ele e com ele se propagou, com ele se impôs e consolidou no mundo. Antes deste livro não havia Espiritismo e nem mesmo esta palavra existia. Falava-se em Espiritualismo e Neo-Espiritualismo, de maneira geral, vaga e nebulosa. Os fatos espíritas, que sempre existiram, eram interpretados das mais diversas maneiras. Mas, depois que Kardec o lançou à publicidade, "contendo os princípios da doutrina espírita", uma nova luz brilhou nos horizontes mentais do mundo.


Há uma sequência histórica que não podemos esquecer ao tomar este livro nas mãos. Quando o mundo se preparava para sair do caos das civilizações primitivas, apareceu Moisés, como o condutor de um povo destinado a traçar as linhas de um novo mundo e de suas mãos surgiu a Bíblia. Não foi Moisés quem a escreveu, mas foi ele o motivo central dessa primeira codificação do novo ciclo de revelações: o cristão. Mais tarde, quando a influência bíblica já havia modelado um povo, e quando este povo já se dispersava por todo o mundo gentio, espalhando a nova lei, apareceu Jesus: e das suas palavras, recolhidas pelos discípulos, surgiu o Evangelho.


A Bíblia é a codificação da primeira revelação cristã, o código hebraico em que se fundiram os princípios sagrados e as grandes lendas religiosas dos povos antigos. A grande síntese dos esforços da antiguidade em direção ao espírito. Não é de admirar que se apresente muitas vezes assustadora e contraditória, para o homem moderno. O Evangelho é a codificação da segunda revelação cristã, a que brilha no centro da tríade dessas revelações, tendo na figura do Cristo o sol que ilumina as duas outras, que lança a sua luz sobre o passado e o futuro, estabelecendo entre ambos a conexão necessária. Mas assim como, na Bíblia, já se anunciava o Evangelho, também neste aparecia a predição de um novo código, o do Espírito de Verdade, como se vê em João, XIV. E o novo código surgiu pelas mãos de Allan Kardec, sob a orientação do Espírito de Verdade, no momento exato em que o mundo se preparava para entrar numa fase superior do seu desenvolvimento.


Hegel, em suas lições de estética, mostra-nos as criações monstruosas da arte oriental, - figuras gigantescas, de duas cabeças e muitos braços e pernas, e outras formas diversas, - como a primeira tentativa do Belo para dominar a matéria e conseguir exprimir-se através dela. A matéria grosseira resiste à força do ideal, desfigurando-o nas suas representações. Mas acaba sendo dominada, e então aparecem no mundo as formas equilibradas e harmoniosas da arte clássica. Atingido, porém, o máximo de equilíbrio possível, o Belo mesmo rompe esse equilíbrio, nas formas românticas e modernas da arte, procurando superar o seu instrumento material, para melhor e mais livremente se exprimir. Essa grandiosa teoria hegeliana nos parece perfeitamente aplicável ao processo das revelações cristãs: das formas incongruentes a aterradoras da Bíblia, passamos ao equilíbrio clássico do Evangelho e, deste, à libertação espiritual de "O Livro dos Espíritos".


Cada fase da evolução humana se encerra com uma síntese conceptual de todas as suas realizações. A Bíblia é a síntese da antiguidade, como o Evangelho é a síntese do mundo greco-romano-judaico, e "O Livro dos Espíritos" a do mundo moderno. Mas cada síntese não traz em si tão somente os resultados da evolução realizada, porque encerra também os germes do futuro. E na síntese evangélica temos de considerar, sobretudo, a presença do Messias, como uma intervenção direta do Alto para a reorientação do pensamento terreno. É graças a essa intervenção que os princípios evangélicos passam diretamente, sem necessidade de readaptações ou modificações, em sua pureza primitiva, para as páginas deste livro, como as vigas mestras da edificação da nova era.

(José Herculano Pires, na introdução de O Livro dos Espíritos, edições Lake)

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO (1864)

Este livro foi publicado, inicialmente, com o título de Imitação do Evangelho. Kardec explica o seguinte: "Mais tarde, por força das observações reiteradas do Sr. Didier e de outras pessoas, mudei-o para Evangelho Segundo o Espiritismo". Trata-se do desenvolvimento dos tópicos religiosos de O Livro dos Espíritos, e representa um manual de aplicação moral do Espiritismo.


A 9 de agosto de 1863, Kardec recebeu uma comunicação dos seus Guias, sobre a elaboração deste livro. A comunicação assinalava o seguinte: "Esse livro de doutrina terá influência considerável, porque explana questões de interesse capital... Não somente o mundo religioso encontrará nele as máximas de que necessita, como as nações em sua vida prática, dele haurirão instruções excelentes. Fizeste bem ao enfrentar as questões de elevada moral prática, do ponto de vista dos interesses gerais, dos interesses sociais e dos interesses religiosos".


Em comunicação posterior, a 14 de setembro de 1863, declaravam os Guias de Kardec: "Nossa ação, principalmente a do Espírito de Verdade, é constante ao teu redor, e de tal maneira, que não a podes negar. Assim, não entrarei em detalhes desnecessários sobre o plano da tua obra que, segundo os meus conselhos ocultos, modificaste tão ampla e completamente. E logo adiante acentuavam: "Com esta obra, o edifício começa a libertar-se dos andaimes e já podemos ver-lhe a cúpula a desenhar-se no horizonte".


Estas comunicações, cuja leitura completa pode ser feita em Obras Póstumas, revelam-nos a importância fundamental de O Evangelho Segundo o Espiritismo na Codificação Kardequiana. Enquanto O Livro dos Espíritos nos apresenta a filosofia Espírita em sua inteireza e O Livro do Médiuns a Ciência Espírita em seu desenvolvimento, este livro nos oferece a base e o roteiro da Religião Espírita.


Livro de cabeceira, de leitura diária obrigatória, de leitura preparatória de reuniões doutrinárias, deve ser encarado também como livro de estudo, para melhor compreensão da Doutrina. A comunicação do Espírito de Verdade, colocada como prefácio, deve ser lida atentamente pelos estudiosos, pois cada uma de suas frases tem um sentido mais profundo do que parece à primeira leitura.


A Introdução e o Capítulo I constituem verdadeiro estudo sobre a natureza, o sentido e a finalidade do Espiritismo. Devem ser estudados atenciosamente, e não apenas lidos. Formam uma peça de grande valor para a verdadeira compreensão de Doutrina -

(José Herculano Pires, na introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo, edições Lake).