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sexta-feira, 13 de agosto de 2010
domingo, 1 de agosto de 2010
IESP
Informativo Mensal da Doutrina Espírita
Ano VIII - Agosto de 2010
São Paulo - SP - Brasil
Baixe o jornal em PDF aqui
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Editorial
Ano VIII - Agosto de 2010
São Paulo - SP - Brasil
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Editorial
Não é com tristeza que vemos este editorial espremido por falta de espaço, embora nosso informativo tenha saltado para 8 páginas... Na verdade, o ocorrido neste quadro se deve especialmente a dois motivos: 1) as fontes gráficas estão maiores que na última edição, assim a leitura se tornou mais confortável. 2) Há mais matérias.
Assim, é por bons motivos que nos faremos breves desta vez. Como novidade, temos dois contos (um mediúnico) e um artigo do articulista espírita Jorge
Hessen (matéria da internet)
Desejamos boa leitura e bons frutos, delas! Jesus nos abençôe! IESP
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Os livros espíritas podem ser escritos de algumas maneiras: psicografados (quando são ditados pelos espíritos através de médiuns), intuídos (quando o autor se vale da intuição), fruto de pesquisa (quando o autor recorre às fontes e tece seus comentários), etc... Cada tipo de livro e autor buscam abordar o Espiritismo por certos aspectos, seja filosófico, moral (religioso) ou científico, a fim de que todos os campos da literatura sejam preenchidos e estudados à luz da Doutrina Espirita. As Obras da Cofificação (Pentateuco kardeciano) nos explicam e auxiliam a vivenciar o Espiritismo Cristão e norteiam nossos caminhos como seguidores do Cristo.
A apropriação do conhecimento doutrinário deve ser obtida obrigatoriamente através dos livros publicados por Allan Kardec e das obras literárias complementares que estão disponíveis em diversos títulos que permitem ao leitor avançar no conhecimento da Terceira Revelação. São livros para estudos, dos mais simples aos mais avançados, e livros para reflexão, que nos fazem repensar nosso modo de viver e a forma de construirmos uma vida mais equilibrada.
Os romances já consagrados (sérios), são muito populares entre os leitores, e narram a vivência do Espiritismo no dia-a-dia, não só em histórias e crônicas contadas por espíritos que as vivenciaram, mas também com histórias desenvolvidas por autores sob boas inspirações. Nos livros romanceados, existem aqueles que trazem temas destinados aos jovens e abordam assuntos específicos dos conflitos da adolescência, para que os mesmos se interessem pela literatura espírita. Há os livros infantis, escritos sempre de maneira simples e divertida, contendo ilustrações atrativas, com histórias de fácil compreensão e assimilação que propõem introduzir a criança ao Espiritismo cristão.
Em verdade, a literatura espírita é riquíssima e bastante ampla. Através dela podemos encontrar as respostas a todos nossos questionamentos pessoais, além de perceber que o mundo espiritual está muito mais presente em nosso cotidiano do que imaginamos. Por tudo isso, vale aqui algumas considerações , a propósito de como o livro espírita tem chegado ao leitor e este ao livro.
O que e como fazer a respeito da comercialização dos princípios espíritas através dos livros, sem contradizer com o compromisso doutrinário que deve favorecer o diálogo com o povo, especialmente os menos favorecidos materialmente?
Não vão nossas palavras destinadas àqueles que revertem os lucros do livro espírita em prol das comprovadas obras assistenciais (creches, asilos, hospitais etc...), mas para editoras que industrializam livros espíritas a preços escorchantes, excluindo os espíritas menos aquinhoados do nosso País.
Não cremos que o materialismo esteja sendo cada dia mais desmoralizado, como sói acreditar alguns “espíritas” (ora! a ganância ao lucro é atitude materialista indiscutivelmente). A rigor, os livros espíritas, que poderiam ajudar a população a se espiritualizar, estão cada vez mais inacessíveis e estão tornando-se artigo de luxo. Não estamos exagerando , não!!Existem publicações de livros confeccionados ricamente com capas duras e douradas, desenhadas, charmosas , que custam “o olho da cara”! (como dizia minha avó paterna). Obviamente, essas relíquias são destinados aos endinheirados. Mas, e os livros – digamos - mais populares? Até mesmo esses têm preços bastante impopulares.
O Brasil está entre os sete países com maior desigualdade social do Planeta. Na “Pátria do Evangelho” há uma multidão de brasileiros sedenta de conhecimento espírita começando a se interessar pelos livros. Parte desse contingente é assalariada, trabalhadora honesta que pega no batente de sol a sol, e mal consegue recursos financeiros para transporte, aluguel, água , luz, remédios e até para comer a fim de sobreviver com dignidade. Será que nossos confrades menos favorecidos materialmente permanecerão no Espiritismo quando se sentirem aviltados nos seus bolsos em face da exploração comercial do livro?
Há pessoas que se deixam enganar com muita facilidade e acabam acreditando que “tudo tem que ser bem caro” e defendem essa idéia porque os conceitos espíritas têm muita qualidade. (pasmem!) Essa é uma opinião e como toda opinião pode ser respeitada! Porém não necessariamente aceita, por ser uma troça para confrades que sobrevivem de salários.
Sabe-se que Chico Xavier, ao doar suas produções psicográficas, durante a sua missão do livro , o fez pensando nos trabalhos em prol dos carentes e não para manter grupos de elite fechados em seus insofreáveis pendores de exploração comercial das coisas divinas. O médium mineiro , logo quando começou a psicografar e ao saber e ver seus livros sendo vendidos , exclamou: - Que ótimo! Mas, eu ainda acho que devíamos é pagar as pessoas para lerem os livros que psicografo. Não creio que o Chico tenha se exagerado, nessa espontânea manifestação, até porque, ciente do valor do conteúdo dos livros e como instrumento dos espíritos que publicou, ele quis mostrar que não psicografava para ganhar dinheiro e sim pelo bem que os livros fariam às pessoas de TODAS AS CLASSES SOCIAIS.
Creio que o livro espírita , se não pode ser gratuito(em face do custo de produção) pelo menos que seja baratinho) isso é uma estratégia verdadeiramente cristã, principalmente em época de Internet que tem democratizado o acesso aos livros por qualquer pessoa, graças a Deus!.
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Um Conto Espírita
Texto Mediúnico
Era sexta-feira ao entardecer e o menino já observava sua mãe se preparar para a difícil jornada que, como de hábito, fariam.
A casa simples, de taipa. Localizada naquele sertão bruto de Dois Córregos, à beira de um morro, equilibrava-se na pequena planície de onde já se arribançava um declive. Eram dois quartos e a grande cozinha, casa à maneira da época; naquela hora o fogão de lenha já resfolegava, aquecendo a todos que ali iam chegando de suas tarefas. Eram onze irmãos.
Luiz, um dos mais novos, em nada se sentia confortável, pressentindo o que estava por vir... Aquelas idas às reuniões lhe davam calafrios só de pensar! Como seria daquela vez? Aconteceria algo que lhe daria muito medo? As dúvidas eram muitas, mas pouco adiantavam nesta hora; sem palavras, a mãe o requisitava: pegava o lampião, o manto e o olhava diretamente. Franzino por conta da febre em que quase desencarnou, era obediência e ativo às requisições da mãe; não havia questionamento possível. Saíram
Era noite escura de inverno. Aos poucos, a luz da casa ia se minguando dos olhares roubados para trás e em pouco tempo estavam ambos sob as copas das grandes árvores, rumo àquelas paragens distantes. A trilha era pequena e o lampião fazia uma grande bolha na mata; Dona Ilda, à frente, ia iluminando o caminha esguio, e atrás Luiz grudado ao vestido da mãe, sentindo o peso, frio e lúgubre, da escuridão a bater em suas costas. Aqui ou ali um som chamava a atenção; era a vida da floresta a resvalar em uma folha, um galho, dando pitada tensa à caminhada noturna.
Após o que pareceu uma hora e pouco de caminhada, a trilha começa a ficar mais larga e plana. Aos poucos as árvores vão se distanciando uma das outras e sinais de vila começam a brindar os caminhantes cansados, aliviando Luiz. O Lampião já combina sua luz com outra de alguma fonte à frente; uma porteira está aberta, um cão magro e escuro se aproxima preguiçosamente, assinalando definitivamente a chegada ao destino. Num repente, dão de frente para uma pequenina vila. Uma mulher é ajudada a descer um outro acesso pelo barranco ali perto: também chegavam para o mesmo fim. Estavam finalmente no pequeno centro Espírita do senhor José Ramalho; era agosto de 1929.
Todos vão chegando e adentrando o recinto. O pequeno barracão era a sala única onde se desenvolviam os trabalhos. Sua estrutura era comum às construções de fazenda: quatro grossos mourões faziam os cantos e sustentavam o teto de ripas e telhas artesanais. Paredes de barro, brancas com rodapés de azuis claros e disformes; o chão era de tijolos batidos. Uma janela lateral aberta dava para um escuro longínquo, e Luiz preferia não olhar para lá. Ficava ao lado a mãe, sentado num dos compridos bancos de madeira. Havia crianças, mas prevaleciam as mulheres adultas, alguns homens com o chapéu por sobre os joelhos; um idoso à porta impacientemente se esforçava para ver por entre as árvores se alguém mais vinha lá por baixo.
São oito e meia, e a pesada porta faz seu rangido singular, empurrada pelo mesmo idoso da entrada. Para uma mesa central se dirigem algumas pessoas, que tomam seus lugares. Começarão os trabalhos.
Luiz está apavorado, pois da última feita viu um homem dizer que via um espírito. Aquilo era simplesmente pavoroso! Então, haveria espíritos ali, e também nos outros lugares? Estava aflito, e começa a rezar em silêncio, pedindo a Deus que o protegesse dos espíritos.
Senhor Ramalho é o último a sentar-se à mesa. Homem forte, alto, com sorriso discreto, é o único a passar algum sossego a Luiz. De fato, Ramalho reflete sua serenidade em seu jeito de andar, olhar, falar. Lacônico às vezes, quando necessário o senhor de cinqüenta e cinco anos sempre está disposto a ouvir cada um que chega àquela reunião, como um irmão distante. Dedicado aos estudos dos livros da Codificação Espírita, trouxe àquelas bandas a novidade das reuniões espíritas, praticadas por sua família em Araraquara. Simpático à doutrinação, é ele que dirigiria os trabalhos dos médiuns.
Todos ficam em silêncio. As lamparinas dos cantos são apagadas uma a uma por alguém e em breve fica aceso apenas um lampião suspenso acima da mesa central. A ansiedade aumenta e aqueles segundos parecem horas a Luiz. Logo, Ramalho começa a orar:
- Que Deus nos abençoe e ilumine neste momento sagrado. Pedimos à virgem que interceda para que os bons espíritos possam vigiar e aquiecer a nossos intentos cristãos materializados nesta singela reunião que aqui desenvolvemos. Sabemos de nossa imperfeição, enquanto homens e médiuns, mas damos neste momento o que temos de melhor em nossos corações para que Jesus possam completar este banquete que está por iniciar...
Luiz está inquieto, mas as referências a Jesus e Nossa Senhora caem como um manto de calmaria em seu coração. Apesar da insegurança, apega-se àquelas palavras santas e espera os próximos passos da reunião. O senhor continua a falar:
- Vamos ler um trecho do evangelho...
Após a leitura de edificante passagem sobre a vida após a morte e seus meandros para os homens de bem e aos maus homens, o amoroso dirigente comenta o trecho tendo por destino as explanações evangélicas do Espiritismo cristão. O ambiente transpira a Luiz uma harmonia e um calor peculiar. Apesar da escuridão, pode-se observar muitos dos assistentes orando com as frontes baixas. Uma criança dá um início de choro, mas logo se detém voluntariamente rendida ao sono.
Ramalho então acena para os trabalhos propriamente mediúnicos. Levanta-se rapidamente para arrastar a cadeira mais para perto da grande mesa e coloca-se em prece, cobrindo a cabeça curvada com suas grandes mãos. O silêncio agora é absoluto, e só resta a todos aguardarem as manifestações por virem. E então o dirigente, após esfregar uma das mãos à testa, profere:
- Irmão Clarisse, há um amigo triste aí a seu lado querendo falar, deixe-o falar através de ti!.
Luiz ficou aterrado! Como poderia !? Ele não via nada ali e segundo o homem havia um espírito! Como poderia o Senhor saber sobre o espírito? Os questionamentos inevitáveis, enquanto o pensamento do caminho de retorno à casa começava a assombrá-lo... Andar por aquelas trilhas, abraçadas por árvores grandes e esquisitas. Certamente, os espíritos logo iriam ao encalço deles!
- Ai amigos! Nem sei o que dizer... – São as primeiras palavras da médium Clarisse, já envolvida pelo espírito comunicante. Dona Clarisse é uma senhora de voz doce e meiga, e mesmo dando palavras ao comunicante, enternece a todos com sua manifestação. Mãe ainda na adolescência, perdeu o filho de febre amarela. Filha de pais italianos e fervorosamente católicos, trabalhou arduamente no cultivo do café, juntamente com o marido Onório. Ambos, sem terem mais filhos, dedicaram-se a ajudar parentes e amigos próximos, distribuindo o pouco que juntaram nas décadas em assistência aos que a eles recorriam. Era em seu sítio que estava instalada aquela sala que servia para as reuniões do centro espírita. Aos sessenta e três anos, dedicava-se com afinco às obrigações do grupo, dando-se a conservação do salão e à tarefa mediúnica com Jesus.
- Pode falar-nos, amigo. Aqui estamos para, com amor, te ouvir! – Diz Ramalho, com voz calma e terna.
- Ah! São tantas as dores que tenho passado... As palavras seriam insuficientes! Venho até aqui porque em lugar algum encontrei quem me acudisse! Desde que tudo mudou, estou muito triste, pois não conseguia mais ser ouvido por minha família, falava mas não me ouviam... Aí vieram alguns homens estranhos e me disseram que eu havia morrido! Oh! Como posso ter morrido, se estou vivo!
Continua na próxima edição!!!
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O CULTO ECUMÊNICO.
Por Dárcio Cintra.
Um determinado palestrante, em um encontro ecumênico cristão, após dirigir-se à assistência com uma saudação cordial, fez, de supetão, a seguinte pergunta:
- Na opinião de vocês, qual seria a Bíblia mais correta?
Um silêncio razoavelmente longo estabeleceu-se por um tempo que pareceu infinito, enquanto o público procurava decifrar a indagação, feita de chofre pelo homem alto, de cabelos longos amarrados detrás da cabeça.
“Como, assim, qual Bíblia é a mais correta”, foi o pensamento que percolou nas mentes dos ouvintes, naqueles segundos que pareceram uma eternidade. O silêncio reinou, até que alguém, em tom estridente, respondeu:
- A tua pergunta não procede, pois existe apenas e tão somente uma única bíblia, a Bíblia Sagrada, que os cristãos seguem, na qual está escrita a palavra de Deus, única e verdadeira.
- Será? - foi a nova pergunta do expositor. Antes que alguém replicasse, ele prosseguiu:
- Esta é uma crença - a de que a Bíblia que todos lêem é igual – que precisa ser revista. Para respondermos plenamente a esta questão, precisamos, primeiramente, conhecer e estudar a origem da Bíblia. Não é uma tarefa fácil, afinal, não é um entendimento que se conseguirá vislumbrar num estalar de dedos, pois, da origem, até os dias atuais, são decorridos milênios. Uma visão panorâmica, no entanto, poderá nos dar idéia não só desta dificuldade, como também poderá nos ajudar a responder à pergunta: “a Bíblia que cada um de nós possui, é a mesma?”. ...
... Nos Evangelhos, nós vemos Jesus referir-se às Escrituras por 10 vezes: 4 vezes em Mateus, 2 vezes em Marcos, 3 em Lucas e 1 em João. Nos reportando a Lucas, capítulo 24, versículo 44, vemos Jesus dizer o seguinte: “São estas as palavras que vos falei, estando ainda convosco, que importava que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”. Que Escrituras são essas, às quais Jesus se refere?
Serão aquelas que nós conhecemos por Antigo Testamento, pois que o Novo Testamento ainda não existia naquela época? Começando por aí, as Escrituras de Jesus já não são exatamente o Antigo Testamento que nós hoje adotamos, isto porque as Escrituras, ou o Tanach, em hebraico, são compostas de 24 livros, sendo que o Antigo Testamento das Bíblias católicas possui 46 livros e, na Bíblia dos protestantes, 39. Como, então, afirmar que todas as Bíblias são iguais, se o que denominamos de Antigo Testamento possuía, na origem, 24 livros, sendo que hoje há bíblias com 39 livros, outras, com 46?
A platéia arregalou os olhos. Ele prosseguiu, com leve sorriso nos lábios:
- Os estudiosos aqui presentes sabem bem que as Escrituras mencionadas por Jesus, isto é, a Bíblia Hebraica, possui apenas 24 livros. Por que, então, a Bíblia protestante possui 39 livros e a Bíblia católica 46?
Portanto, só de analisar o número de livros considerados divinamente inspirados, já percebemos que a Bíblia que eu possuo pode não ser a mesma que você possui. E nisto apontou para um senhor de cabelos grisalhos, sentado à primeira fila, que ouvia atentamente, em cujo semblante estampou-se um ar de timidez. O orador tomou de um papel sobre a mesa, colocou seus óculos e prosseguiu:
- No caso das traduções, considerando-se a língua portuguesa, são várias as Bíblias existentes, como, por exemplo, a Bíblia Sagrada, tradução de João Ferreira de Almeida, adotada por evangélicos; a Bíblia de estudo Pentecostal, da Assembléia de Deus; a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, dos Testemunhas de Jeová; ainda, a Bíblia de Jerusalém, que dizem ser a melhor tradução disponível; a Bíblia Tradução Ecumênica; a Bíblia na Linguagem de Hoje; a Bíblia Sagrada, da editora Ave Maria; a Bíblia Sagrada, da editora Vozes; a Bíblia Viva, da editora Mundo Cristão; a Bíblia Mensagem de Deus, edições Loyola, etc., cada uma dizendo possuir a mais fidedigna tradução, a de J. F. de Almeida chegando a afirmar “de acordo com os melhores textos em hebraico e grego”. Ora, se há textos que são melhores que outros, pergunto-me: “em quais textos a minha Bíblia terá sido baseada? Nos piores ou nos melhores”. ...
... Alguém poderá dizer que várias são as editoras, portanto, natural existirem várias Bíblias de editoras diferentes, porém, as diferenças para um mesmo texto traduzido, por vezes chegam a ser gritantes. Não precisamos, portanto, ir muito longe nesta análise para verificarmos que a Bíblia que eu leio é com certeza diferente daquela que vocês lêem, caso o tradutor não seja o mesmo. Parafraseando Jerônimo, o célebre tradutor da Bíblia grega para o latim, que dizia “a verdade não pode existir em coisas que divergem”, nós perguntamos, por nossa vez, “qual Bíblia, então, estará com a verdade?”.
Houve um burburinho, que o palestrante deixou acontecer, sem interromper, tempo necessário para reflexões. Contudo, tendo um padre pedido silêncio, o orador continuou:
- Não entrarei agora no mérito do porquê da diferença no número de livros do Velho Testamento. Nem elencarei os problemas com o Novo Testamento, que são mais complicados ainda; também, não entrarei no mérito dos evangelhos apócrifos. Evidentemente que há explicações históricas, jogo de interesses religiosos, inserções e exclusões as mais diversas, erros de copistas amadores ou de profissionais mal intencionados, traduções mal feitas, com má fé ou não. A questão principal que persiste é: “se a Bíblia é a palavra de Deus, então ela deveria ser igual para todos. Ora, se não é, então, qual delas estará com a verdade? Quem, dos representantes de cada religião aqui presentes, poderá afirmar, a minha, com certeza, é mais verdadeira?”. Cada um, obviamente, defenderá que é a sua, assim como os muçulmanos defenderão que não é nenhuma delas, mas sim o Alcorão; ou os hindús dirão que todos estão enganados, pois é evidente que a verdade está no Livro Sagrado dos Vedas. Já os espíritas dirão estar no Livro dos Espíritos ou no Evangelho Segundo o Espiritismo. ...
... Por falar nisso, para este encontro não foram convidados nossos irmãos espíritas, que, queiram ou não, são também cristãos, muito embora muitos dos senhores não concordarão com esta afirmação, afinal, até entre os próprios espíritas há divergências sobre este assunto. No meu entendimento, porém, são cristãos, porque adotam como norma de conduta a moral do Cristo. Mas, não toco no assunto para tentarmos chegar a um acordo sobre isto, pois que este não é o objetivo deste culto ecumênico. Falo, para exemplificar o problema das traduções.
O burbuinho desta vez foi mais intenso. O cenho do padre fechou-se, numa expressão de desaprovação, não fazendo ele, desta vez, questão de pedir silêncio.
- Por gentileza, por favor... Silêncio, por favor, para que eu possa concluir meu raciocínio... Há uma passagem, em Deuteronômio 18, 9 a 11, que é utilizada para dizer que a Bíblia condena o Espiritismo. Segundo o professor Severino Celestino da Silva, emérito professor paraibano, profundo estudioso da Bíblia e da língua hebraica, a correta tradução, a partir da Bíblia Hebraica, para Deuteronômio 18, 9 a 11, é a seguinte: “Quando entrares na terra que Iahvéh, teu Deus, te dá, não aprendas a fazer, as abominações daquelas nações. Não se achará em ti (...), nem adivinhador, nem feiticeiros, nem agoureiro, nem cartomante, nem bruxo, nem mago e semelhante, nem quem consulte o necromante e o adivinho, nem quem exija a presença dos mortos”...
... Agora, vejamos o que diz a Bíblia de João Ferreira de Almeida: “(...) nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro, nem quem consulte espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos”. Observem que nesta tradução, embora muito parecida com a correta, surge aí uma diferença importante. Enquanto a primeira diz “nem quem consulte o necromante”, a segunda já diz “nem quem consulte espírito adivinhador”. Segundo o professor, não há a palavra “espírito” no texto original em hebraico. Com que intenção ou interpretação, então, houve a substituição das palavras originais? ...
... A Bíblia de Jerusalém já traz outra versão, embora também parecida com a original: “(...) nem que faça presságios, oráculo, adivinhação ou magia, ou que pratique encantamentos, que interrogue espíritos ou adivinhos, ou ainda que invoque os mortos”. Parecida, mas com uma mudança não menos suspeita. Por que “interrogue espíritos” em vez de “consulte o necromante”? ...
... Todavia, a Bíblia do Centro Bíblico Católico Editora Ave Maria vai fundo nesta mudança, com uma intenção não menos evidente. Vejamos qual a tradução para este mesmo trecho: “(...) nem que se dê à adivinhação, à astrologia, aos agouros, ao feiticismo, à magia, ao espiritismo, à adivinhação ou a evocação dos mortos”. Pergunto-me, onde foi que os tradutores desta Bíblia encontraram as palavras “astrologia” e “espiritismo” neste texto, se no original em hebraico, ou mesmo em grego, elas lá não existem? Se, aliás, na época em que foi escrito o Tanach, as palavras “espiritismo” e “astrologia” sequer existiam? Qual o interesse escuso por trás desta tradução?
O alarido intensificou-se. O padre, desta vez apoiado por um pastor, quase retirou o orador do púlpito. Este, no entanto, já quase gritando, para fazer-se ouvir, impondo-se, assim, finalizou:
- A Tradução do Mundo Novo, no entanto, ganhou no quesito deturpação. Ela diz: “(...) alguém que empregue adivinhação, algum praticante de magia ou quem procure presságios, ou um feiticeiro, ou alguém que prenda outros com encantamentos, ou alguém que vá consultar um médium Espírita, ou um prognosticador profissional de eventos, ou alguém que consulte os mortos”. Jesus amado, segundo esta Bíblia, até médiuns espíritas já havia no tempo de Moisés, sendo que as palavras “médium” e “espírita” foram criadas há apenas 150 anos e a Torá, onde está Deuteronômio, foi escrita há mais de 6 milênios. Parece-me evidente a má fé de quem traduziu este trecho, tentando denegrir o Espiritismo. E se, porventura, a tua Bíblia for uma destas, que pessoas mal intencionadas traduziram e lhe passaram como sendo a verdade? Que outras deturpações poderão haver, além destas? Como confiar nestas Bíblias, discrepantes entre si?
Voaram em sua direção várias Bíblias, de várias traduções, uma quase acertando-lhe a cabeça - a de Jerusalém, em formato de bolso, portanto, bem compacta e gorda, que poderia muito bem ter lhe causado um traumatismo craniano. Bateu rapidamente em retirada, antes que fosse linchado, ao som de vários impropérios:
- Espírita! Representante do demônio!
- Mentiroso! Espírita enrustido!
- Vade retro, Satanás.
- Maldito! Fora daqui!
E o encontro ecumênico descambou para uma verdadeira reunião de insultos, os evangélicos criticando as imagens dos Santos católicos, os católicos vilipendiando os evangélicos por menosprezarem a Virgem Santíssima, os testemunhas de Jeová dizendo que só eles herdariam o Reino, enfim, uma verdadeira baixaria, onde o Evangelho foi posto de lado. A verdade, pensou aquele palestrante, enquanto corria (e nem espírita ele era), é que “todo encontro ecumênico moderno reveste-se de grande falsidade, de verdadeira hipocrisia; de imposição da opinião dos mais fortes; da constatação de que ninguém, no fundo, está suficientemente evangelizado para ouvir, respeitar e levar em conta pensamentos divergentes dos seus. Sob a desculpa da união, do discurso ameno, que não expõe as diferenças, ocultam os verdadeiros sentimentos, agredindo-se mutuamente pelas costas, enquanto, pela frente, abraços e apertos de mão esfuziantes. Novos fariseus, sepulcros caiados por fora e podres por dentro. Entre palavras unânimes, fácil é amar o próximo; difícil é fazê-lo na diversidade de idéias. Que o diga Jesus de Nazaré”.
Dárcio Cintra é Engenheiro Hidráulico,
dirije a Fraternidade Espírita Sylvia Brown, em Piracema, MG,
e é colunista do IESP
darcio.cintra@uol.com.br
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Assim, é por bons motivos que nos faremos breves desta vez. Como novidade, temos dois contos (um mediúnico) e um artigo do articulista espírita Jorge
Hessen (matéria da internet)
Desejamos boa leitura e bons frutos, delas! Jesus nos abençôe! IESP
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Se O Espiritismo Deve Se Aproximar Do Povo, Por Que Os Livros Espíritas São Tão Caros?
Os livros espíritas podem ser escritos de algumas maneiras: psicografados (quando são ditados pelos espíritos através de médiuns), intuídos (quando o autor se vale da intuição), fruto de pesquisa (quando o autor recorre às fontes e tece seus comentários), etc... Cada tipo de livro e autor buscam abordar o Espiritismo por certos aspectos, seja filosófico, moral (religioso) ou científico, a fim de que todos os campos da literatura sejam preenchidos e estudados à luz da Doutrina Espirita. As Obras da Cofificação (Pentateuco kardeciano) nos explicam e auxiliam a vivenciar o Espiritismo Cristão e norteiam nossos caminhos como seguidores do Cristo.
A apropriação do conhecimento doutrinário deve ser obtida obrigatoriamente através dos livros publicados por Allan Kardec e das obras literárias complementares que estão disponíveis em diversos títulos que permitem ao leitor avançar no conhecimento da Terceira Revelação. São livros para estudos, dos mais simples aos mais avançados, e livros para reflexão, que nos fazem repensar nosso modo de viver e a forma de construirmos uma vida mais equilibrada.
Os romances já consagrados (sérios), são muito populares entre os leitores, e narram a vivência do Espiritismo no dia-a-dia, não só em histórias e crônicas contadas por espíritos que as vivenciaram, mas também com histórias desenvolvidas por autores sob boas inspirações. Nos livros romanceados, existem aqueles que trazem temas destinados aos jovens e abordam assuntos específicos dos conflitos da adolescência, para que os mesmos se interessem pela literatura espírita. Há os livros infantis, escritos sempre de maneira simples e divertida, contendo ilustrações atrativas, com histórias de fácil compreensão e assimilação que propõem introduzir a criança ao Espiritismo cristão.
Em verdade, a literatura espírita é riquíssima e bastante ampla. Através dela podemos encontrar as respostas a todos nossos questionamentos pessoais, além de perceber que o mundo espiritual está muito mais presente em nosso cotidiano do que imaginamos. Por tudo isso, vale aqui algumas considerações , a propósito de como o livro espírita tem chegado ao leitor e este ao livro.
O que e como fazer a respeito da comercialização dos princípios espíritas através dos livros, sem contradizer com o compromisso doutrinário que deve favorecer o diálogo com o povo, especialmente os menos favorecidos materialmente?
Não vão nossas palavras destinadas àqueles que revertem os lucros do livro espírita em prol das comprovadas obras assistenciais (creches, asilos, hospitais etc...), mas para editoras que industrializam livros espíritas a preços escorchantes, excluindo os espíritas menos aquinhoados do nosso País.
Não cremos que o materialismo esteja sendo cada dia mais desmoralizado, como sói acreditar alguns “espíritas” (ora! a ganância ao lucro é atitude materialista indiscutivelmente). A rigor, os livros espíritas, que poderiam ajudar a população a se espiritualizar, estão cada vez mais inacessíveis e estão tornando-se artigo de luxo. Não estamos exagerando , não!!Existem publicações de livros confeccionados ricamente com capas duras e douradas, desenhadas, charmosas , que custam “o olho da cara”! (como dizia minha avó paterna). Obviamente, essas relíquias são destinados aos endinheirados. Mas, e os livros – digamos - mais populares? Até mesmo esses têm preços bastante impopulares.
O Brasil está entre os sete países com maior desigualdade social do Planeta. Na “Pátria do Evangelho” há uma multidão de brasileiros sedenta de conhecimento espírita começando a se interessar pelos livros. Parte desse contingente é assalariada, trabalhadora honesta que pega no batente de sol a sol, e mal consegue recursos financeiros para transporte, aluguel, água , luz, remédios e até para comer a fim de sobreviver com dignidade. Será que nossos confrades menos favorecidos materialmente permanecerão no Espiritismo quando se sentirem aviltados nos seus bolsos em face da exploração comercial do livro?
Há pessoas que se deixam enganar com muita facilidade e acabam acreditando que “tudo tem que ser bem caro” e defendem essa idéia porque os conceitos espíritas têm muita qualidade. (pasmem!) Essa é uma opinião e como toda opinião pode ser respeitada! Porém não necessariamente aceita, por ser uma troça para confrades que sobrevivem de salários.
Sabe-se que Chico Xavier, ao doar suas produções psicográficas, durante a sua missão do livro , o fez pensando nos trabalhos em prol dos carentes e não para manter grupos de elite fechados em seus insofreáveis pendores de exploração comercial das coisas divinas. O médium mineiro , logo quando começou a psicografar e ao saber e ver seus livros sendo vendidos , exclamou: - Que ótimo! Mas, eu ainda acho que devíamos é pagar as pessoas para lerem os livros que psicografo. Não creio que o Chico tenha se exagerado, nessa espontânea manifestação, até porque, ciente do valor do conteúdo dos livros e como instrumento dos espíritos que publicou, ele quis mostrar que não psicografava para ganhar dinheiro e sim pelo bem que os livros fariam às pessoas de TODAS AS CLASSES SOCIAIS.
Creio que o livro espírita , se não pode ser gratuito(em face do custo de produção) pelo menos que seja baratinho) isso é uma estratégia verdadeiramente cristã, principalmente em época de Internet que tem democratizado o acesso aos livros por qualquer pessoa, graças a Deus!.
Jorge Hessen é jornalista e orador espírita, e colaborou com este texto para o IESP http://jorgehessen.net
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Um Conto Espírita
Texto Mediúnico
Era sexta-feira ao entardecer e o menino já observava sua mãe se preparar para a difícil jornada que, como de hábito, fariam.
A casa simples, de taipa. Localizada naquele sertão bruto de Dois Córregos, à beira de um morro, equilibrava-se na pequena planície de onde já se arribançava um declive. Eram dois quartos e a grande cozinha, casa à maneira da época; naquela hora o fogão de lenha já resfolegava, aquecendo a todos que ali iam chegando de suas tarefas. Eram onze irmãos.
Luiz, um dos mais novos, em nada se sentia confortável, pressentindo o que estava por vir... Aquelas idas às reuniões lhe davam calafrios só de pensar! Como seria daquela vez? Aconteceria algo que lhe daria muito medo? As dúvidas eram muitas, mas pouco adiantavam nesta hora; sem palavras, a mãe o requisitava: pegava o lampião, o manto e o olhava diretamente. Franzino por conta da febre em que quase desencarnou, era obediência e ativo às requisições da mãe; não havia questionamento possível. Saíram
Era noite escura de inverno. Aos poucos, a luz da casa ia se minguando dos olhares roubados para trás e em pouco tempo estavam ambos sob as copas das grandes árvores, rumo àquelas paragens distantes. A trilha era pequena e o lampião fazia uma grande bolha na mata; Dona Ilda, à frente, ia iluminando o caminha esguio, e atrás Luiz grudado ao vestido da mãe, sentindo o peso, frio e lúgubre, da escuridão a bater em suas costas. Aqui ou ali um som chamava a atenção; era a vida da floresta a resvalar em uma folha, um galho, dando pitada tensa à caminhada noturna.
Após o que pareceu uma hora e pouco de caminhada, a trilha começa a ficar mais larga e plana. Aos poucos as árvores vão se distanciando uma das outras e sinais de vila começam a brindar os caminhantes cansados, aliviando Luiz. O Lampião já combina sua luz com outra de alguma fonte à frente; uma porteira está aberta, um cão magro e escuro se aproxima preguiçosamente, assinalando definitivamente a chegada ao destino. Num repente, dão de frente para uma pequenina vila. Uma mulher é ajudada a descer um outro acesso pelo barranco ali perto: também chegavam para o mesmo fim. Estavam finalmente no pequeno centro Espírita do senhor José Ramalho; era agosto de 1929.
Todos vão chegando e adentrando o recinto. O pequeno barracão era a sala única onde se desenvolviam os trabalhos. Sua estrutura era comum às construções de fazenda: quatro grossos mourões faziam os cantos e sustentavam o teto de ripas e telhas artesanais. Paredes de barro, brancas com rodapés de azuis claros e disformes; o chão era de tijolos batidos. Uma janela lateral aberta dava para um escuro longínquo, e Luiz preferia não olhar para lá. Ficava ao lado a mãe, sentado num dos compridos bancos de madeira. Havia crianças, mas prevaleciam as mulheres adultas, alguns homens com o chapéu por sobre os joelhos; um idoso à porta impacientemente se esforçava para ver por entre as árvores se alguém mais vinha lá por baixo.
São oito e meia, e a pesada porta faz seu rangido singular, empurrada pelo mesmo idoso da entrada. Para uma mesa central se dirigem algumas pessoas, que tomam seus lugares. Começarão os trabalhos.
Luiz está apavorado, pois da última feita viu um homem dizer que via um espírito. Aquilo era simplesmente pavoroso! Então, haveria espíritos ali, e também nos outros lugares? Estava aflito, e começa a rezar em silêncio, pedindo a Deus que o protegesse dos espíritos.
Senhor Ramalho é o último a sentar-se à mesa. Homem forte, alto, com sorriso discreto, é o único a passar algum sossego a Luiz. De fato, Ramalho reflete sua serenidade em seu jeito de andar, olhar, falar. Lacônico às vezes, quando necessário o senhor de cinqüenta e cinco anos sempre está disposto a ouvir cada um que chega àquela reunião, como um irmão distante. Dedicado aos estudos dos livros da Codificação Espírita, trouxe àquelas bandas a novidade das reuniões espíritas, praticadas por sua família em Araraquara. Simpático à doutrinação, é ele que dirigiria os trabalhos dos médiuns.
Todos ficam em silêncio. As lamparinas dos cantos são apagadas uma a uma por alguém e em breve fica aceso apenas um lampião suspenso acima da mesa central. A ansiedade aumenta e aqueles segundos parecem horas a Luiz. Logo, Ramalho começa a orar:
- Que Deus nos abençoe e ilumine neste momento sagrado. Pedimos à virgem que interceda para que os bons espíritos possam vigiar e aquiecer a nossos intentos cristãos materializados nesta singela reunião que aqui desenvolvemos. Sabemos de nossa imperfeição, enquanto homens e médiuns, mas damos neste momento o que temos de melhor em nossos corações para que Jesus possam completar este banquete que está por iniciar...
Luiz está inquieto, mas as referências a Jesus e Nossa Senhora caem como um manto de calmaria em seu coração. Apesar da insegurança, apega-se àquelas palavras santas e espera os próximos passos da reunião. O senhor continua a falar:
- Vamos ler um trecho do evangelho...
Após a leitura de edificante passagem sobre a vida após a morte e seus meandros para os homens de bem e aos maus homens, o amoroso dirigente comenta o trecho tendo por destino as explanações evangélicas do Espiritismo cristão. O ambiente transpira a Luiz uma harmonia e um calor peculiar. Apesar da escuridão, pode-se observar muitos dos assistentes orando com as frontes baixas. Uma criança dá um início de choro, mas logo se detém voluntariamente rendida ao sono.
Ramalho então acena para os trabalhos propriamente mediúnicos. Levanta-se rapidamente para arrastar a cadeira mais para perto da grande mesa e coloca-se em prece, cobrindo a cabeça curvada com suas grandes mãos. O silêncio agora é absoluto, e só resta a todos aguardarem as manifestações por virem. E então o dirigente, após esfregar uma das mãos à testa, profere:
- Irmão Clarisse, há um amigo triste aí a seu lado querendo falar, deixe-o falar através de ti!.
Luiz ficou aterrado! Como poderia !? Ele não via nada ali e segundo o homem havia um espírito! Como poderia o Senhor saber sobre o espírito? Os questionamentos inevitáveis, enquanto o pensamento do caminho de retorno à casa começava a assombrá-lo... Andar por aquelas trilhas, abraçadas por árvores grandes e esquisitas. Certamente, os espíritos logo iriam ao encalço deles!
- Ai amigos! Nem sei o que dizer... – São as primeiras palavras da médium Clarisse, já envolvida pelo espírito comunicante. Dona Clarisse é uma senhora de voz doce e meiga, e mesmo dando palavras ao comunicante, enternece a todos com sua manifestação. Mãe ainda na adolescência, perdeu o filho de febre amarela. Filha de pais italianos e fervorosamente católicos, trabalhou arduamente no cultivo do café, juntamente com o marido Onório. Ambos, sem terem mais filhos, dedicaram-se a ajudar parentes e amigos próximos, distribuindo o pouco que juntaram nas décadas em assistência aos que a eles recorriam. Era em seu sítio que estava instalada aquela sala que servia para as reuniões do centro espírita. Aos sessenta e três anos, dedicava-se com afinco às obrigações do grupo, dando-se a conservação do salão e à tarefa mediúnica com Jesus.
- Pode falar-nos, amigo. Aqui estamos para, com amor, te ouvir! – Diz Ramalho, com voz calma e terna.
- Ah! São tantas as dores que tenho passado... As palavras seriam insuficientes! Venho até aqui porque em lugar algum encontrei quem me acudisse! Desde que tudo mudou, estou muito triste, pois não conseguia mais ser ouvido por minha família, falava mas não me ouviam... Aí vieram alguns homens estranhos e me disseram que eu havia morrido! Oh! Como posso ter morrido, se estou vivo!
Continua na próxima edição!!!
Ditado por Espíritos da Colônia
Psicografia de Rogério Silva Temporini acompanhe:
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O CULTO ECUMÊNICO.
Por Dárcio Cintra.
Um determinado palestrante, em um encontro ecumênico cristão, após dirigir-se à assistência com uma saudação cordial, fez, de supetão, a seguinte pergunta:
- Na opinião de vocês, qual seria a Bíblia mais correta?
Um silêncio razoavelmente longo estabeleceu-se por um tempo que pareceu infinito, enquanto o público procurava decifrar a indagação, feita de chofre pelo homem alto, de cabelos longos amarrados detrás da cabeça.
“Como, assim, qual Bíblia é a mais correta”, foi o pensamento que percolou nas mentes dos ouvintes, naqueles segundos que pareceram uma eternidade. O silêncio reinou, até que alguém, em tom estridente, respondeu:
- A tua pergunta não procede, pois existe apenas e tão somente uma única bíblia, a Bíblia Sagrada, que os cristãos seguem, na qual está escrita a palavra de Deus, única e verdadeira.
- Será? - foi a nova pergunta do expositor. Antes que alguém replicasse, ele prosseguiu:
- Esta é uma crença - a de que a Bíblia que todos lêem é igual – que precisa ser revista. Para respondermos plenamente a esta questão, precisamos, primeiramente, conhecer e estudar a origem da Bíblia. Não é uma tarefa fácil, afinal, não é um entendimento que se conseguirá vislumbrar num estalar de dedos, pois, da origem, até os dias atuais, são decorridos milênios. Uma visão panorâmica, no entanto, poderá nos dar idéia não só desta dificuldade, como também poderá nos ajudar a responder à pergunta: “a Bíblia que cada um de nós possui, é a mesma?”. ...
... Nos Evangelhos, nós vemos Jesus referir-se às Escrituras por 10 vezes: 4 vezes em Mateus, 2 vezes em Marcos, 3 em Lucas e 1 em João. Nos reportando a Lucas, capítulo 24, versículo 44, vemos Jesus dizer o seguinte: “São estas as palavras que vos falei, estando ainda convosco, que importava que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”. Que Escrituras são essas, às quais Jesus se refere?
Serão aquelas que nós conhecemos por Antigo Testamento, pois que o Novo Testamento ainda não existia naquela época? Começando por aí, as Escrituras de Jesus já não são exatamente o Antigo Testamento que nós hoje adotamos, isto porque as Escrituras, ou o Tanach, em hebraico, são compostas de 24 livros, sendo que o Antigo Testamento das Bíblias católicas possui 46 livros e, na Bíblia dos protestantes, 39. Como, então, afirmar que todas as Bíblias são iguais, se o que denominamos de Antigo Testamento possuía, na origem, 24 livros, sendo que hoje há bíblias com 39 livros, outras, com 46?
A platéia arregalou os olhos. Ele prosseguiu, com leve sorriso nos lábios:
- Os estudiosos aqui presentes sabem bem que as Escrituras mencionadas por Jesus, isto é, a Bíblia Hebraica, possui apenas 24 livros. Por que, então, a Bíblia protestante possui 39 livros e a Bíblia católica 46?
Portanto, só de analisar o número de livros considerados divinamente inspirados, já percebemos que a Bíblia que eu possuo pode não ser a mesma que você possui. E nisto apontou para um senhor de cabelos grisalhos, sentado à primeira fila, que ouvia atentamente, em cujo semblante estampou-se um ar de timidez. O orador tomou de um papel sobre a mesa, colocou seus óculos e prosseguiu:
- No caso das traduções, considerando-se a língua portuguesa, são várias as Bíblias existentes, como, por exemplo, a Bíblia Sagrada, tradução de João Ferreira de Almeida, adotada por evangélicos; a Bíblia de estudo Pentecostal, da Assembléia de Deus; a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, dos Testemunhas de Jeová; ainda, a Bíblia de Jerusalém, que dizem ser a melhor tradução disponível; a Bíblia Tradução Ecumênica; a Bíblia na Linguagem de Hoje; a Bíblia Sagrada, da editora Ave Maria; a Bíblia Sagrada, da editora Vozes; a Bíblia Viva, da editora Mundo Cristão; a Bíblia Mensagem de Deus, edições Loyola, etc., cada uma dizendo possuir a mais fidedigna tradução, a de J. F. de Almeida chegando a afirmar “de acordo com os melhores textos em hebraico e grego”. Ora, se há textos que são melhores que outros, pergunto-me: “em quais textos a minha Bíblia terá sido baseada? Nos piores ou nos melhores”. ...
... Alguém poderá dizer que várias são as editoras, portanto, natural existirem várias Bíblias de editoras diferentes, porém, as diferenças para um mesmo texto traduzido, por vezes chegam a ser gritantes. Não precisamos, portanto, ir muito longe nesta análise para verificarmos que a Bíblia que eu leio é com certeza diferente daquela que vocês lêem, caso o tradutor não seja o mesmo. Parafraseando Jerônimo, o célebre tradutor da Bíblia grega para o latim, que dizia “a verdade não pode existir em coisas que divergem”, nós perguntamos, por nossa vez, “qual Bíblia, então, estará com a verdade?”.
Houve um burburinho, que o palestrante deixou acontecer, sem interromper, tempo necessário para reflexões. Contudo, tendo um padre pedido silêncio, o orador continuou:
- Não entrarei agora no mérito do porquê da diferença no número de livros do Velho Testamento. Nem elencarei os problemas com o Novo Testamento, que são mais complicados ainda; também, não entrarei no mérito dos evangelhos apócrifos. Evidentemente que há explicações históricas, jogo de interesses religiosos, inserções e exclusões as mais diversas, erros de copistas amadores ou de profissionais mal intencionados, traduções mal feitas, com má fé ou não. A questão principal que persiste é: “se a Bíblia é a palavra de Deus, então ela deveria ser igual para todos. Ora, se não é, então, qual delas estará com a verdade? Quem, dos representantes de cada religião aqui presentes, poderá afirmar, a minha, com certeza, é mais verdadeira?”. Cada um, obviamente, defenderá que é a sua, assim como os muçulmanos defenderão que não é nenhuma delas, mas sim o Alcorão; ou os hindús dirão que todos estão enganados, pois é evidente que a verdade está no Livro Sagrado dos Vedas. Já os espíritas dirão estar no Livro dos Espíritos ou no Evangelho Segundo o Espiritismo. ...
... Por falar nisso, para este encontro não foram convidados nossos irmãos espíritas, que, queiram ou não, são também cristãos, muito embora muitos dos senhores não concordarão com esta afirmação, afinal, até entre os próprios espíritas há divergências sobre este assunto. No meu entendimento, porém, são cristãos, porque adotam como norma de conduta a moral do Cristo. Mas, não toco no assunto para tentarmos chegar a um acordo sobre isto, pois que este não é o objetivo deste culto ecumênico. Falo, para exemplificar o problema das traduções.
O burbuinho desta vez foi mais intenso. O cenho do padre fechou-se, numa expressão de desaprovação, não fazendo ele, desta vez, questão de pedir silêncio.
- Por gentileza, por favor... Silêncio, por favor, para que eu possa concluir meu raciocínio... Há uma passagem, em Deuteronômio 18, 9 a 11, que é utilizada para dizer que a Bíblia condena o Espiritismo. Segundo o professor Severino Celestino da Silva, emérito professor paraibano, profundo estudioso da Bíblia e da língua hebraica, a correta tradução, a partir da Bíblia Hebraica, para Deuteronômio 18, 9 a 11, é a seguinte: “Quando entrares na terra que Iahvéh, teu Deus, te dá, não aprendas a fazer, as abominações daquelas nações. Não se achará em ti (...), nem adivinhador, nem feiticeiros, nem agoureiro, nem cartomante, nem bruxo, nem mago e semelhante, nem quem consulte o necromante e o adivinho, nem quem exija a presença dos mortos”...
... Agora, vejamos o que diz a Bíblia de João Ferreira de Almeida: “(...) nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro, nem quem consulte espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos”. Observem que nesta tradução, embora muito parecida com a correta, surge aí uma diferença importante. Enquanto a primeira diz “nem quem consulte o necromante”, a segunda já diz “nem quem consulte espírito adivinhador”. Segundo o professor, não há a palavra “espírito” no texto original em hebraico. Com que intenção ou interpretação, então, houve a substituição das palavras originais? ...
... A Bíblia de Jerusalém já traz outra versão, embora também parecida com a original: “(...) nem que faça presságios, oráculo, adivinhação ou magia, ou que pratique encantamentos, que interrogue espíritos ou adivinhos, ou ainda que invoque os mortos”. Parecida, mas com uma mudança não menos suspeita. Por que “interrogue espíritos” em vez de “consulte o necromante”? ...
... Todavia, a Bíblia do Centro Bíblico Católico Editora Ave Maria vai fundo nesta mudança, com uma intenção não menos evidente. Vejamos qual a tradução para este mesmo trecho: “(...) nem que se dê à adivinhação, à astrologia, aos agouros, ao feiticismo, à magia, ao espiritismo, à adivinhação ou a evocação dos mortos”. Pergunto-me, onde foi que os tradutores desta Bíblia encontraram as palavras “astrologia” e “espiritismo” neste texto, se no original em hebraico, ou mesmo em grego, elas lá não existem? Se, aliás, na época em que foi escrito o Tanach, as palavras “espiritismo” e “astrologia” sequer existiam? Qual o interesse escuso por trás desta tradução?
O alarido intensificou-se. O padre, desta vez apoiado por um pastor, quase retirou o orador do púlpito. Este, no entanto, já quase gritando, para fazer-se ouvir, impondo-se, assim, finalizou:
- A Tradução do Mundo Novo, no entanto, ganhou no quesito deturpação. Ela diz: “(...) alguém que empregue adivinhação, algum praticante de magia ou quem procure presságios, ou um feiticeiro, ou alguém que prenda outros com encantamentos, ou alguém que vá consultar um médium Espírita, ou um prognosticador profissional de eventos, ou alguém que consulte os mortos”. Jesus amado, segundo esta Bíblia, até médiuns espíritas já havia no tempo de Moisés, sendo que as palavras “médium” e “espírita” foram criadas há apenas 150 anos e a Torá, onde está Deuteronômio, foi escrita há mais de 6 milênios. Parece-me evidente a má fé de quem traduziu este trecho, tentando denegrir o Espiritismo. E se, porventura, a tua Bíblia for uma destas, que pessoas mal intencionadas traduziram e lhe passaram como sendo a verdade? Que outras deturpações poderão haver, além destas? Como confiar nestas Bíblias, discrepantes entre si?
Voaram em sua direção várias Bíblias, de várias traduções, uma quase acertando-lhe a cabeça - a de Jerusalém, em formato de bolso, portanto, bem compacta e gorda, que poderia muito bem ter lhe causado um traumatismo craniano. Bateu rapidamente em retirada, antes que fosse linchado, ao som de vários impropérios:
- Espírita! Representante do demônio!
- Mentiroso! Espírita enrustido!
- Vade retro, Satanás.
- Maldito! Fora daqui!
E o encontro ecumênico descambou para uma verdadeira reunião de insultos, os evangélicos criticando as imagens dos Santos católicos, os católicos vilipendiando os evangélicos por menosprezarem a Virgem Santíssima, os testemunhas de Jeová dizendo que só eles herdariam o Reino, enfim, uma verdadeira baixaria, onde o Evangelho foi posto de lado. A verdade, pensou aquele palestrante, enquanto corria (e nem espírita ele era), é que “todo encontro ecumênico moderno reveste-se de grande falsidade, de verdadeira hipocrisia; de imposição da opinião dos mais fortes; da constatação de que ninguém, no fundo, está suficientemente evangelizado para ouvir, respeitar e levar em conta pensamentos divergentes dos seus. Sob a desculpa da união, do discurso ameno, que não expõe as diferenças, ocultam os verdadeiros sentimentos, agredindo-se mutuamente pelas costas, enquanto, pela frente, abraços e apertos de mão esfuziantes. Novos fariseus, sepulcros caiados por fora e podres por dentro. Entre palavras unânimes, fácil é amar o próximo; difícil é fazê-lo na diversidade de idéias. Que o diga Jesus de Nazaré”.
Dárcio Cintra é Engenheiro Hidráulico, dirije a Fraternidade Espírita Sylvia Brown, em Piracema, MG,
e é colunista do IESP
darcio.cintra@uol.com.br
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O Poder da Fé
Por Luiz Ceglys
O Poder da Fé
Por Luiz Ceglys
Um fato extremamente comum no meio cristão, e até entre nós espíritas é o julgamento que fazemos sobre acontecimentos que ocorrem em nosso meio, quando, de imediato, tecemos comentários moralizadores: “É falta de evangelho no coração!”; “falam do evangelho, mas fazem exatamente o contrário!”; “sem evangelho não teremos solução!”; “chegaram em má situação na vida espiritual porque não vivenciaram o evangelho!”; “a ausência de evangelho sentido, levou aquele grupo à derrota!”.
Não podemos negar a veracidade de muitas dessas afirmações, contudo será que nós em tais situações agiríamos de forma mais correta? Será que nós vivenciamos o evangelho em sua plenitude? Certamente, não! E por qual motivo ainda não conseguimos vivenciá-lo em sua plenitude? Hã! “porquê é muito difícil praticar os ensinamentos do Mestre! A gente sempre acaba escorregando!
E por que, embora achando a Boa Nova uma maravilha, ainda não conseguimos colocar seus ensinamentos em prática no dia a dia?
Simplesmente porque a natureza não dá saltos! Estamos, ainda, na infância espiritual. Erramos não porque nossa índole é má, mas porque ainda não assimilamos toda a lei natural, embora ela esteja gravada em nossa consciência desde nossa criação, mas ainda carente de ser desenvolvida em nossos corações de forma que possa integrar nosso instinto moral, como denominou Kardec na Revista Espírita.
Façamos uma viagem no tempo, e encontraremos Jesus no Monte Tabor, acompanhado dos Espíritos de Elias, o profeta das venerandas tradições, e Moisés, o legislador do povo hebreu, que se apresentavam com seus corpos espirituais, rompendo, assim, a sombra que pairava sobre a imortalidade do Espírito e a possibilidade de suas comunicações com os homens. Moises, apresentando-se, para liberar a comunicação com os “mortos”, proibida por ele, no passado em função dos abusos que se cometiam, e Elias, para a confirmação de que Jesus era o Messias por ele anunciado.
Descendo o Mestre à planície onde as criaturas o aguardavam, um pai aflito pediu-Lhe socorro para que curasse o filho vítima de uma força desconhecida que o atirava de um lado a outro, ameaçando-lhe a existência, minando-lhe as energias, sem possibilidade de libertação. “Os apóstolos não conseguiram curá-lo, afirmou o homem.”
Conhecendo o insondável do ser humano, como afirma Joana de Angelis, Jesus, percebendo-lhe o passado de delinqüência, vinculado ao odiento perseguidor, libertara-o, utilizando-se para isso de sua força moral, sendo que esse contato fez que se restabelecesse o discernimento, e o arrependimento se fez presente, naquele infeliz Espírito vingativo que dali partiu para cuidar da própria sombra.
Em particular, perguntaram-lhe os apóstolos: “Porque, Mestre, não pudemos libertá-lo?” “Por causa da vossa pouca fé, disse-lhes o Jesus, pois se tivessem a fé, do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a este monte: passa daqui para acolá, e ele haveria de passar, e nada vos seria impossível.” (Mateus, XVII: 14-19)
Naquele tempo, a condição dos Espíritos, aqui encarnados, não era muito diferente das nossas nos tempos hodiernos, embora os apóstolos eram, ainda, menos evoluídos que nós, apesar da convivência com o Mestre, e como tal, não conheciam, não sabiam e não haviam aprendido os ensinos do Mestre em sua plenitude, o que lhes impediam de terem êxito naquela tarefa. Faltou-lhes o conhecimento.
Sabemos que a remoção da montanha é uma forma alegórica utilizada por Jesus, fato comum em seus ensinamentos, e que com isso, não quis afirmar que conseguiríamos remover montes de terras de nossos caminhos, mas sim, que com uma minúscula dose de Fé seremos capazes de vencer as dificuldades, comuns a todos nós em nossa caminhada rumo a angelitude.
Ora, isso para nós espíritas, não se constitui em nenhuma novidade; já sabemos disso há muito. Mas, então, porque não conseguimos ter a Fé que gostaríamos de ter? Porque ainda vacilamos nos momentos difíceis?
Simplesmente porque, como já dissemos no início deste artigo, a natureza não dá saltos. Se ainda somos crianças espirituais, estamos aprendendo, e, embora já tendo assimilado esse ensinamento, daí a colocá-lo em prática é um longo caminho que teremos que percorrer e com muita determinação. A Fé, que segundo Joana de Angelis, é “força que se irradia como energia operante, e, por isso, consegue remover as montanhas das dificuldades, aplainar as arestas dos conflitos e minar as resistências que se opõem à marcha do progresso”, não se compra nos supermercados, nas farmácias ou em revistarias. A Fé é uma conquista individual de cada um de nós em nossas lutas diárias. Para conquistá-la é mister, acima de tudo, boa vontade para estudarmos o evangelho de Jesus, buscando entendê-lo em sua essência mais profunda, de forma que permitamos sermos conduzidos à prática da caridade impulsionados pelo amor ao próximo como a nós mesmos, cujo trabalho deve ser desenvolvido e cultivado ao longo do tempo, sem neuroses, sem traumas, mas, como dissemos, com muita determinação.
Mas, então poderemos perguntar: Somente a Fé nos basta? Basta-nos clamar Senhor! Senhor!? Isso nos facultará a entrada nos mundos superiores?
Não, não basta! Tiago já nos deixou claro (Tiago, 2, 14): “se alguém disser que tem fé mas não tem obras, que lhe aproveitará isso? Acaso a fé pode salvá-lo?...se não tiver obras, está completamente morta.”
Tito, por sua vez (Tito, 3:14-26) afirmou: “Meus irmãos, qual é o proveito se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé, salvá-lo? (...) Assim também a fé; se não tiver obras, por sí só está morta. Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me tua fé sem obras, e eu, com as obras, mostrarei a minha fé.”
Assim, urge buscarmos a conquista da fé, mas sem neuroses, sem fugas pela angústia causada pelas quedas. Não há quem consiga atingir essa conquista sem vacilos. O importante é que não nos entreguemos, não queiramos desistir, não queiramos ser aquilo que ainda não somos. A natureza não dá saltos, tudo se encaminha de forma lenta e gradual na natureza; busquemos conquistar aquilo que somos capazes nesta existência, com determinação, sem esmorecer. Só assim conseguiremos cultivar a fé, que nos conduzirá a realizações das obras, ou seja: a prática da caridade, pura, sem esperarmos nada em troca, para que nossa fé não seja morta, pois se assim for, poderá ela enfrentar a razão, face a face, em qualquer época da humanidade.
Com isso, poderemos ter a certeza de que nossa fé será poderosa, inabalável, porque acreditamos, não por acreditar, mas sim porque conhecemos os mecanismos da Lei divina, e sabemos que somente seremos caridosos, suportados pela fé inabalável, pela fé que conhece, atendendo dessa forma ao ensinamento de Jesus: “buscai a verdade e a verdade vos libertará.”
Com isso poderemos transportar montanhas; as montanhas de dificuldades que nos impossibilitam de alçar um vôo maior rumo à evolução, pois conscientes de nossas limitações que nos impedem de uma caminhada mais rápida, aprenderemos sempre com elas e teremos a condição de reunir a força necessária para superar a cada uma delas, certos de que a perda de uma batalha não significa a perda da guerra. Levantaremos após cada queda, e, com Deus, seguiremos a caminho da luz, pois confiamos em sua justiça, bondade e misericórdia.
Confiantes que a falta de fé, que por vezes dormita, faz parte da nossa caminhada, assim como a falta de conhecimento faz parte da vida infantil de nossas crianças, mas que na vida adulta, certamente, estará presente.
Não podemos negar a veracidade de muitas dessas afirmações, contudo será que nós em tais situações agiríamos de forma mais correta? Será que nós vivenciamos o evangelho em sua plenitude? Certamente, não! E por qual motivo ainda não conseguimos vivenciá-lo em sua plenitude? Hã! “porquê é muito difícil praticar os ensinamentos do Mestre! A gente sempre acaba escorregando!
E por que, embora achando a Boa Nova uma maravilha, ainda não conseguimos colocar seus ensinamentos em prática no dia a dia?
Simplesmente porque a natureza não dá saltos! Estamos, ainda, na infância espiritual. Erramos não porque nossa índole é má, mas porque ainda não assimilamos toda a lei natural, embora ela esteja gravada em nossa consciência desde nossa criação, mas ainda carente de ser desenvolvida em nossos corações de forma que possa integrar nosso instinto moral, como denominou Kardec na Revista Espírita.
Façamos uma viagem no tempo, e encontraremos Jesus no Monte Tabor, acompanhado dos Espíritos de Elias, o profeta das venerandas tradições, e Moisés, o legislador do povo hebreu, que se apresentavam com seus corpos espirituais, rompendo, assim, a sombra que pairava sobre a imortalidade do Espírito e a possibilidade de suas comunicações com os homens. Moises, apresentando-se, para liberar a comunicação com os “mortos”, proibida por ele, no passado em função dos abusos que se cometiam, e Elias, para a confirmação de que Jesus era o Messias por ele anunciado.
Descendo o Mestre à planície onde as criaturas o aguardavam, um pai aflito pediu-Lhe socorro para que curasse o filho vítima de uma força desconhecida que o atirava de um lado a outro, ameaçando-lhe a existência, minando-lhe as energias, sem possibilidade de libertação. “Os apóstolos não conseguiram curá-lo, afirmou o homem.”
Conhecendo o insondável do ser humano, como afirma Joana de Angelis, Jesus, percebendo-lhe o passado de delinqüência, vinculado ao odiento perseguidor, libertara-o, utilizando-se para isso de sua força moral, sendo que esse contato fez que se restabelecesse o discernimento, e o arrependimento se fez presente, naquele infeliz Espírito vingativo que dali partiu para cuidar da própria sombra.
Em particular, perguntaram-lhe os apóstolos: “Porque, Mestre, não pudemos libertá-lo?” “Por causa da vossa pouca fé, disse-lhes o Jesus, pois se tivessem a fé, do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a este monte: passa daqui para acolá, e ele haveria de passar, e nada vos seria impossível.” (Mateus, XVII: 14-19)
Naquele tempo, a condição dos Espíritos, aqui encarnados, não era muito diferente das nossas nos tempos hodiernos, embora os apóstolos eram, ainda, menos evoluídos que nós, apesar da convivência com o Mestre, e como tal, não conheciam, não sabiam e não haviam aprendido os ensinos do Mestre em sua plenitude, o que lhes impediam de terem êxito naquela tarefa. Faltou-lhes o conhecimento.
Sabemos que a remoção da montanha é uma forma alegórica utilizada por Jesus, fato comum em seus ensinamentos, e que com isso, não quis afirmar que conseguiríamos remover montes de terras de nossos caminhos, mas sim, que com uma minúscula dose de Fé seremos capazes de vencer as dificuldades, comuns a todos nós em nossa caminhada rumo a angelitude.
Ora, isso para nós espíritas, não se constitui em nenhuma novidade; já sabemos disso há muito. Mas, então, porque não conseguimos ter a Fé que gostaríamos de ter? Porque ainda vacilamos nos momentos difíceis?
Simplesmente porque, como já dissemos no início deste artigo, a natureza não dá saltos. Se ainda somos crianças espirituais, estamos aprendendo, e, embora já tendo assimilado esse ensinamento, daí a colocá-lo em prática é um longo caminho que teremos que percorrer e com muita determinação. A Fé, que segundo Joana de Angelis, é “força que se irradia como energia operante, e, por isso, consegue remover as montanhas das dificuldades, aplainar as arestas dos conflitos e minar as resistências que se opõem à marcha do progresso”, não se compra nos supermercados, nas farmácias ou em revistarias. A Fé é uma conquista individual de cada um de nós em nossas lutas diárias. Para conquistá-la é mister, acima de tudo, boa vontade para estudarmos o evangelho de Jesus, buscando entendê-lo em sua essência mais profunda, de forma que permitamos sermos conduzidos à prática da caridade impulsionados pelo amor ao próximo como a nós mesmos, cujo trabalho deve ser desenvolvido e cultivado ao longo do tempo, sem neuroses, sem traumas, mas, como dissemos, com muita determinação.
Mas, então poderemos perguntar: Somente a Fé nos basta? Basta-nos clamar Senhor! Senhor!? Isso nos facultará a entrada nos mundos superiores?
Não, não basta! Tiago já nos deixou claro (Tiago, 2, 14): “se alguém disser que tem fé mas não tem obras, que lhe aproveitará isso? Acaso a fé pode salvá-lo?...se não tiver obras, está completamente morta.”
Tito, por sua vez (Tito, 3:14-26) afirmou: “Meus irmãos, qual é o proveito se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé, salvá-lo? (...) Assim também a fé; se não tiver obras, por sí só está morta. Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me tua fé sem obras, e eu, com as obras, mostrarei a minha fé.”
Assim, urge buscarmos a conquista da fé, mas sem neuroses, sem fugas pela angústia causada pelas quedas. Não há quem consiga atingir essa conquista sem vacilos. O importante é que não nos entreguemos, não queiramos desistir, não queiramos ser aquilo que ainda não somos. A natureza não dá saltos, tudo se encaminha de forma lenta e gradual na natureza; busquemos conquistar aquilo que somos capazes nesta existência, com determinação, sem esmorecer. Só assim conseguiremos cultivar a fé, que nos conduzirá a realizações das obras, ou seja: a prática da caridade, pura, sem esperarmos nada em troca, para que nossa fé não seja morta, pois se assim for, poderá ela enfrentar a razão, face a face, em qualquer época da humanidade.
Com isso, poderemos ter a certeza de que nossa fé será poderosa, inabalável, porque acreditamos, não por acreditar, mas sim porque conhecemos os mecanismos da Lei divina, e sabemos que somente seremos caridosos, suportados pela fé inabalável, pela fé que conhece, atendendo dessa forma ao ensinamento de Jesus: “buscai a verdade e a verdade vos libertará.”
Com isso poderemos transportar montanhas; as montanhas de dificuldades que nos impossibilitam de alçar um vôo maior rumo à evolução, pois conscientes de nossas limitações que nos impedem de uma caminhada mais rápida, aprenderemos sempre com elas e teremos a condição de reunir a força necessária para superar a cada uma delas, certos de que a perda de uma batalha não significa a perda da guerra. Levantaremos após cada queda, e, com Deus, seguiremos a caminho da luz, pois confiamos em sua justiça, bondade e misericórdia.
Confiantes que a falta de fé, que por vezes dormita, faz parte da nossa caminhada, assim como a falta de conhecimento faz parte da vida infantil de nossas crianças, mas que na vida adulta, certamente, estará presente.
EXPEDIENTE
DIREÇÃO: Rogério Silva Temporini - COLUNISTAS: Luiz Ceglys, Roberto Arantes, Dárcio Cintra, Rogério Silva, Airam Leme - Edição On-line e Impressa Gratuitas - Primeira Edição Janeiro de 2002 - Produzido por NÚCLEO DE DIFUSÂO ESPÍRITA JESUS DA GALILÉIA - Acessar: ndejesusdagalileia.blogspot.com Email: ndejesusdagalileia@gmail.com
Todos os textos e matérias expressam o pensamento individual de cada colaborador, não representando
necessariamente o pensamento geral do IESP, tampouco consenso geral dentro de Movimento e Sociedades Espíritas.
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